Cristiane Sousa

O catador de folhas

Imagem canva gratuíto

Amanheceu, e no quintal da casa do seu José, o pé de graviola deixa cair suas folhas secas no chão de terra úmida e marrom. Ao redor da árvore, plantas medicinais e pequenas flores também são atingidas pelas folhas, que levadas pelo vento se espalham no solo.
Religiosamente, ao acordar, seu José desce as escadas que levam ao quintal, e cata as folhas, uma de cada vez, na sua vagareza, mas atento ao movimento do pé de graviola.
Depois, senta no banco de madeira improvisado, e passa o dia com olhar distante. Apenas nos momentos em que a fome “ aperta”, é que seu José vai até a cozinha, faz a refeição, segue em direção ao rol de entrada da casa, onde fica um sofá e ali deita e descansa tirando um breve cochilo. Logo levanta e segue para o seu posto de vigilância, sentando no banco embaixo do pé de graviola.
Ás vezes seu José faz umas travessuras, arrancando plantas, colhendo as frutas antes do tempo… Em uma dessas travessuras, ao avistar o mamoeiro resolveu colher alguns mamões ainda verdes, atitude que deixou sua esposa muito chateada.
Mas o que o seu José gosta mesmo é de catar folhas secas no chão do quintal, e essa ação se tornou um refúgio, a forma que encontrou para se sentir útil, estratégia inconsciente, diante do esquecimento, de quem se distraí com a natureza, contemplando mesmo sem entender, a mudança das folhas num movimento de renovação.
Na função de “catador de folhas”, seu José se encarrega de dar espaço, para que o ciclo natural das folhas continue, e a sua memória, mesmo pregando peças, fazendo esquecer momentos vividos, alerta através do relógio do tempo, em cada amanhecer, a hora de ir para o quintal e seguir a rotina, lentamente, encontrando um novo sentindo e assim continuar a trilhar o seu caminho.

 

Mostrar mais

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo