Colei da FFP-UERJ

SONHEI QUE PINTEI UMA UMEI

 

SONHEI QUE PINTEI UMA UMEI

Heloisa Josiele Santos Carreiro

Professora da FFP/UERJ

Coordenadora do COLEI

Eu não sei se vocês acreditam em sonhos. Mas eu acredito. Em sonhos que a gente sonha enquanto está dormindo e que você ali com corpo na sua cama vai para uma realidade paralela e vive coisas que parecem tão verdadeiras que quando a gente acorda, demora um pouco para voltar para a nova realidade, esta aqui de quando estamos acordados. Então, ei… psiu?! Você aí! Você mesmo leitor dessas palavras que vão criando imagens reais ou não, na sua imaginação, enquanto lê esse texto. Eu que escrevo estas palavras sou real. Bem… eu me sinto viva. Estou neste exato momento escrevendo palavras que versam sobre sonhos. Mas voltemos ao ei… psiu?! Você mesmo!!! Você tem sonhado? Tem dormindo bem?! Se você tem sonhado sabe do que estou falando. Se sonhou muito no passado também. Entretanto, se não anda dormindo bem… Acho que tem sonhado pouco, se é que tem sonhado ou não… Eu sei que se você já viveu, o mesmo que eu em tempos de insônia… Uma sensação de que está sonhando acordado. Porque quem sofre de insônia… o sono e, às vezes, os sonhos vão e vêm…

Há um outro tipo de sonho também, aqueles que a gente arquiteta na mente acordado, quando compartilha com alguém faz gestos com as mãos e com o corpo para melhor comunicar. Às vezes, abre mapas aponta o lugar onde moram seus sonhos. E têm sonhos que não são feito de matéria visíveis: se amar, se sentir bem consigo mesmo, que eu seus filhos estejam protegidos de toda maldade visível e invisível desse mundo e, de jeito nenhum eles partam para o outro plano antes de você, sonhar que a prosperidade te abençoe, não a riqueza extrema que mais te traria pesadelos que estados de felicidade… Ah! Tem SONHO que dá raiva o fato dele precisar ser SONHO: que ninguém morra de fome; sem atendimento médico; que ninguém parta para o outro mundo em plena solidão; que pessoas se suicidem por dívidas – dinheiro é só papel!… ou por achar que não há para ela AMOR, com tanta gente e tanto lugar nessa terra, quero te dizer: -há de ter outra alma gêmea nesse mundo pra você… lembre-se a vida pode gerar até mais que trigêmeos; e, mais!!!!! …que ninguém seja agredido ou morto por AMAR… -que a gente tenha o direito de AMAR quem quiser… se há respeito e cumplicidade, se não praticam entre si violência e maldade, por favor, deixem que se AMEM… e, não meta a colher; também acho absurdo sonhar por justiça social e para que os governantes parem de nos fazer tanto mal….

Mas, a gente anda precisando SONHAR/ ORAR/ REZAR/ MOVER AXÉ/ POETIZAR/ LITERATURIZAR  por estas coisas… Porque o mundo anda um tanto ESTÉRIL DOS SONHOS QUE ACABO DE NARRAR… Eu, sei que você tem sonhos que eu não listei, sonhos materiais, eu também, os tenho e trabalho por eles, como você também, deve trabalhar pelos seus. E, penso que não há nenhum mal em trabalhar dignamente por sonhos materiais, muitos deles inclusive ajudam a gente a sulear e/ou a nortear nossa vida. Eu não fiz nenhum estudo específico, mas se agente aproximar a palavra SONHO da palavra ESPERANÇA muitos autores da psicologia, da filosofia e da educação, quero falar desta ultima área de conhecimento. Paulo Freire nos conta em sua obra “Pedagogia do Compromisso” (2008), que “o único caminho é reencontrar razões de esperança na desesperança” diz ele que é assim que a gente consegue “reconstruir esperanças” (p. 43). Eu sinto/sei que ele está certo, sobreviveu a ditadura e em exílio andou o mundo, promovendo o direito à alfabetização, aproximando as pessoas do que era SONHO para Antonio Candido (1989) que a literatura fosse parte dos direitos humanos, podemos ousar dizer que este também era o SONHO de Paulo Freire, é meu, da Zezé do COLEI, da Bruna Molisani, da Adriana Almeida, da Vanessa Breia, da Delma Marcelo, do Renato Cardoso, do Zé Salvador, da Gláucia Guimarães, da Tereza Goudard, da Mariza de Assis e da Ana Santiago… Mas, o que esse sonho que vou encerrando esses escritos tem haver com o começo, com meio e o fim desse texto?! -É que confirma que a literatura faz a gente SONHAR mais, conhecer mais de si mesmo, de mundos reais e fictícios… Ainda, assim você deve estar se perguntando: sim mais e daí. O que os SONHOS que temos dormindo tem a ver, com os SONHOS que temos acordado?!

É que ontem eu sonhei que pintei uma UMEI da FFP-UERJ. Para quem não sabe UMEI quer dizer Unidade Municipal de Educação Infantil. Eu SONHEI que as minhas tintas eram mágicas e que tudo que eu pintava lá nos sonhos virava verdade. Ah! E, neste SONHO, eu sabia que estava SONHANDO, isso não te parece estranho?! Que dentre tantas coisas que eu poderia pintar com tintas mágicas, que tornavam as pinturas realidade, nos meus SONHOS, eu pintasse uma UMEI da FFP?! Quem me conhece deverá dizer claro que não… Te imaginaria pintando uma UMEI da FFP. Nos sonhos ela já existe. Ela existe de verdade. Olha aqui o desenho que fiz e que acompanha esse texto… Era eu, mas não era eu pintando… Como SONHOS que não espelham a realidade. É uma pena que SONHOS não se programam, apesar das tintas mágicas, se eu SONHASSE com mais gente pintando, como ali em cima citei pouquíssimos dos muitos nomes que sei que SONHAM com Candido e Freire… Se eu não tivesse sonhado sozinha…. Talvez, eu acordasse dentro da UMEI, porque como se sabe ela é um espaço barulhento. Cheia de gente em movimento, uma orquestra de ruídos de vidas se movendo em direção ao conhecimento. Sempre me incomodou os momentos de sono em UMEIs, nunca me pareceu lugar pra se dormir. Descansar, sim. Mas dormir… em meus SONHOS haveria de ser ato raro… momento triste de quando um adulto ou uma criança não está bem.

Você já tentou voltar para o mesmo SONHO? Se você nunca tentou. Eu já!!! E, várias vezes, quando acordei tentei voltar e não consegui. Mas agora depois de escrever essas palavras auto reflexivas que fizeram nascer esse micro texto. Eu, juro que a partir de hoje, antes de dormir deitada na cama, enxotando a insônia, que nasceu na pandemia e só está silenciada por causa de remédios. Eu vou tentar voltar para esse mesmo SONHO. Falei tanto escrevendo que não lembra mais o SONHO?! O SONHO de que com tintas mágicas pinto no mundo uma UMEI da FFP/ UERJ, mas agora vou tentar programar o SONHO, quando entrar nele e não vou pintar sozinha. Acho que por tentar fazer sozinha tudo não passou de um SONHO. Um SONHO bom, mas sem base real. Mas esse, eu quero que seja uma profecia e que vire realidade. Não diz o ditado popular que “sonhar é de graça?!

Eu SONHO e tenho a ESPERANÇA[i] de que se fizer isso, vou acordar dentro da UMEI com todo mundo que acreditou e a pintou com tintas mágicas. Se trabalhar na FFP/UERJ é bom e eu “morro” de saudade, imagina o que não será trabalhar numa UMEI SONHADA com a alma dela… Até! Até! Até! Até as próximas palavras que vou PINTAR na tela..

(Escrito em 04 de dezembro de 2021)

Referências

CANDIDO, Antonio. Direitos Humanos e literatura. In: A.C.R. Fester (Org.) Direitos humanos E… Cjp / Ed. Brasiliense, 1989.

FREIRE, Ana Maria Araújo (Org.). Pedagogia do Compromisso: América Latina e Educação Popular. 1. ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2018.

[i] Aprendi esse termo em itálico em uma oficina de escrita criativas durante a pandemia com as crianças

 

Fonte da imagem: Criada pela própria autora do texto.

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