”Reflexo Indiferente”
”Reflexo Indiferente” (Helô Strega Carreiro)
Ontem eu olhei para o espelho,
na esperança de me ver,
acredita que o meu próprio reflexo
as costas me deu?!
Eu gritei: ei, olha pra mim!
Você me pertence.
Você sou eu…
Logo você é meu.
De costas estava.
De costas ficou.
De costas o reflexo gargalhou,
me ignorou e nos olhos não me olhou.
Eu não reconheço quem estava naquele espelho.
Juro que não me conheço e/ou me reconheço de costas.
Quem tira foto de costas?
Quem se vê de costas?
Eu sequer tenho uma bunda bonita…
É… que estou lembrando agora da minha cunhada.
Ela tem: corpão e bundão,
mil fotos de biquíni de costas.
De repente, o reflexo ainda de costas comentou:
para quê quer se vê de frente?
Passa a vida na frente do espelho
e não de conhece?
Não decorou a própria imagem?
De agora em diante você só verá suas costas.
Então, gritei:
-Vire de frente agora!
Quem manda em você sou eu!
O reflexo saiu andando
E, eu feito, doida continuei gritando.
Ela se foi e eu precisei parar de gritar.
O tempo foi passando e todos os espelhos da casa,
da rua, da cidade, não mostravam meu reflexo.
Perdi a memória do meu reflexo.
Reflexo que não era MEU…
Reflexo que não era EU…
Reflexo que era apenas reflexo…
E, sem o vício na autoimagem…
Pode parecer estranho,
mas quando desapeguei do reflexo.
Passei a enxergar mais os outros
que comigo estavam no mundo.
E, no diálogo com o outro, voltei a me ver.
Mas, eu não era uma….
As pessoas me ajudam a ver tantas Helôs…
nem todas amo,
nem todas queriam “refletir” aos outros…
Algumas, eu abraço e pulo de alegria.
Há certos reflexos que compartilho com os outros,
que eu os amo,
que mesmo que o mundo torça o nariz.
Nossa que incrível seu poema, reflete bem muitas pessoas, está de parabéns!.