A LITERATURA COMO ATO DE RESISTÊNCIA

A língua portuguesa é um caminho repleto de armadilhas, os mais desavisados tendem a sucumbir nos abismos e lodaçais de areia movediça. Não existe uma única forma de evitar a “morte”. A literatura seja na sua forma de prosa ou poesia são alternativas que nos ajudam na compreensão do que somos e de onde estamos.

Comecei este artigo citando a língua portuguesa porque escrevo em português, mas este não é um privilégio lusitano. O escrever como disse Pedro Bial, não sei se é uma frase dele; “escrever é o mais prazeroso dos trabalhos e o mais trabalhoso dos prazeres”, e em meio a isso, se esse ato vem carregado de compromisso, além do fato de já estar compromissado com todos os compromissos que normalmente o desejo de escrever já vem, a missão de aquecer invernos, de refrescar verões, de vomitar angústias e subverter a ordem é intrínseca ao escrever.

Maria Carolina de Jesus, com Quarto de Despejo, Conceição Evaristo, com Ponciá Vicêncio, Clarice Lispector, com a Hora da Estrela, Itamar Vieira Junior, com Torto Arado ou Victor Hugo, com Os Miseráveis, poderia passar horas nesse texto citando obras e autores pois a impressão que temos se nos debruçarmos sobre as histórias contadas é que nelas existem mais do  que articulações linguísticas, ou convenções com elementos da narrativa, mas na verdade, o que proponho é um olhar crítico mais apurado, onde a intenção é de resistir, muitas vezes explicitando, denunciando as espúrias de uma sociedade.

A literatura, há muito tempo, tem sido mais do que meramente uma expressão artística. Ela se tornou um ato de resistência, uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles que buscam desafiar o status quo, confrontar injustiças e dar voz aos marginalizados. Desde tempos imemoriais, escritores têm usado suas palavras para desafiar sistemas opressivos, seja por meio da sátira, da crítica social direta ou da simples narrativa das experiências dos oprimidos. Na literatura, encontramos uma plataforma onde as vozes silenciadas podem ecoar e as verdades inconvenientes podem ser proclamadas.

Nos períodos mais sombrios da história, a literatura floresceu como uma luz na escuridão. Durante regimes totalitários, escritores corajosos desafiaram a censura e o controle estatal, escrevendo obras que desafiavam o autoritarismo e inspiravam resistência. Autores como George Orwell, com “1984”, questiona o poder do Estado sobre os indivíduos, ou Alice Walker, com a Cor Púrpura, que trata  do empoderamento feminino na sociedade americana, demonstraram o poder da palavra escrita em confrontar regimes opressivos ou não e despertar consciências adormecidas.

Além disso, a literatura é uma forma de resistência cultural, já dizia Bosi: “a literatura é um movimento interno ao foco narrativo, uma luz que ilumina o nó inextricável que ata o sujeito ao seu contexto existencial e histórico” (Alfredo Bosi, professor, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras), ela preserva as identidades e as histórias de povos marginalizados, resistindo à assimilação cultural e à perda de tradições. Autores indígenas, por exemplo, têm usado a literatura como uma ferramenta para reivindicar suas histórias, culturas e terras ancestrais, desafiando narrativas dominantes e lutando pela autodeterminação.

Portanto, a literatura como ato de resistência é mais do que apenas palavras no papel, é uma força transformadora que desafia o poder, inspira a mudança e preserva a humanidade em face da adversidade. Enquanto houver injustiça no mundo, haverá escritores dispostos a levantar suas vozes em resistência, usando a literatura como uma arma para a justiça e a liberdade.

Link da foto: autoral

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