Reisado: a tradição resiste!
Algumas fontes dizem que o reisado surgiu no Egito, como festa de adoração à Festa Sol Invencível, embora os católicos digam como sendo o período da caminhada dos reis até a visita para Jesus. Discussões à parte, o que quero falar mesmo é sobre o reisado nordestino, que acontece do final de dezembro (em alguns lugares) até o dia 6 de janeiro, que é o dia de Santos Reis.
Pois bem, por mais que alguns achem que reisado é coisa do passado, a tradição por aqui, no Ceará, continua viva. Ou melhor, vivíssima! Afinal, a cultura sobrevive ao tempo, às mudanças e chega sempre às gerações atuais. No entanto, para isso é preciso que haja alguém disposto a mantê-la viva.
E por aqui, em Reriutaba, o reisado está pra lá de vivo. Ontem à noite, o Grupo de Reisado Mata Branca fez uma belíssima apresentação no terreiro da casa do Dr. Osvaldo Lemos, o Cabeção, que é apaixonado por essa arte. O Reisado do Cabeção já é tradicional por aqui. O Grupo ainda continua sendo os da “velha guarda”: Dutinha, Ciço Martins, Pedro Amâncio, Antônio Carlos, Choca, Zé Belinha, Juruna, Nêgo Duruteus, Moreira, entres outros.
Idosos, jovens e crianças, que lotaram o ambiente, se divertiram com o espetáculo. Os flashes dos celulares, algo muito moderno se comparado ao reisado, se voltaram para o brilho e o encantamento da antiga tradição, mostrando que as culturas antigas e recentes podem conviver no mesmo espaço, uma complementando a outra.
Para os mais velhos, o reisado os leva a boas recordações, de quando esse evento era ansiosamente esperado nesse período. Para muitos jovens e crianças ainda é algo novo, bem diferente da cultura na qual estão inseridos. Mesmo assim, a meninada vibrou com o duelo dos poetas, o ataque do boi à Velha; se emocionou com a morte e a ressureição do boi e se encantou com a dança da burrinha – a simpática Zá Belinha.
Eis aí a prova de que o reisado nunca envelhece; e continuará jovem enquanto tiver alguém que o mantenha atual, como fizeram, ontem, Dr. Osvaldo e o Grupo de Reisado Mata Branca.
E os artistas (chamados de poetas), ao se despedirem, deixaram saudade. Mas também mantiveram a promessa de que no próximo ano terá mais.
E viva o reisado! Viva a cultura!
João Rodrigues – ex-brincante de reisado e poeta popular
Imagem cedida por Leomário Munis Passos