Chuva na favela

Chuva na favela

Cai ingênua a chuva sobre os telhados da favela.

Chuva que floresce rega a prole humana semeada na selva de concreto, embaladas ao som monótono da agua, gotejando nos baldes espalhados pelos cômodos minúsculos.

Goteja a chuva pela fresta molhando o que resta da comida sobre a mesa. Perece a ultima feira, dissolvem-se as pipas e os “pipas” redigidos atrás das grades. Encharcam os barrancos que, tais quais torrões de açúcar, se dissolvem no lamaçal, soterrando quem já vivia por baixo.

Encharca o trabalhador que apeou no asfalto e saltita as poças da zona alertada pela defesa civil, esperançoso de que o teto improvisado não desabe sobre sua família.

A chuva se perde entre os becos e os muros grafitados, das vielas trafegadas pelas estatísticas. Escorrega pelas escadarias que dividem o conforto lá de baixo, das adversidades cá de cima.

Escoa nas valas das sarjetas, um fio d’agua que alimentado pela enchente, se alarga e inunda os barracos, como se quisesse devolver para aquela gente, todo o lixo e quinquilharia que o margeia.

Goteja lágrimas dos olhos de quem já não tinha nada e acaba de perder tudo. Numa conta que nunca fecha, onde subtração é operação mais presente.

Chuva que é dádiva divina, na favela é pesadelo.

Rodos e baldes executam uma sinfonia rascante, mediando a batalha entre a agua que ameaça invadir e os vulneráveis calejados pelos tantos obstáculos.

Lá em baixo, no conforto dos apartamentos, as crianças observam a chuva pela vidraça, enquanto cá no alto, elas se encolhem ilhadas no único pedacinho seco do barraco.

fonte da imagem:https://www.pexels.com/pt-br/foto/casa-de-concreto-marrom-sob-um-raio-2499846/

 

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