O tempo das pausas que nos despertam

 

O que te faz amar?

Já parou para pensar?

Enclausurar, encaixotar, sentir

Assim, deste jeito!

Por este motivo!

Por aquele fato!

É tempo de pausar

Reformular

Recalcular

E saber que amar

É mais do que nomenclatura

Amamos pelo que é

Amamos pelo ser completo

Ser é verbo intransitivo

Pare de transitar

O que é intransitável

Amar é terra sem trânsito

Onde vivemos reformulando e redescobrindo

O amor pelo que o outro é.

Gerundiando e sendo!

(Michelle Carvalho)

 

Vamos falar de amor e das pausas que a vida dá?

Pausas?

A gente consegue pausar o amor ou a vida?

Parece que não, né? Quanto mais na louca correria que voltamos a viver! As pausas acontecem quando nos deparamos com acontecimentos que nos chacoalham e nos fazem pensar e refletir sobre o que vivemos, pensamos, agimos e proferimos, principalmente sobre o que anda permeando nosso coração.

Esses são os tempos das pausas que nos despertam…

O ser humano tem a triste característica de encaixotar as pessoas em nichos com adjetivos, advérbios e complementos em frases que não necessitam de complementação, por exemplo: “Fulana é difícil!”, “Beltrano é esquisito, né?”, “Ciclaninha é desagradável, tem até qualidades, mas é muito desagradável”.

Quantas vezes ouvimos isso ao nosso redor? Quantas vezes nós usamos frases assim, reduzindo pessoas a uma palavra? Fazemos isso até tentando ser agradáveis, falando qualidades, mas reduzindo a pessoa a uma coisa ou outra.

Fazemos isso mesmo quando amamos alguém: “Fulana é linda”, “Beltrana é alegre!”, “Ciclana é simpática!”.

Quando assim fazemos, encaixotamos alguém a ser algo específico, como se não existisse uma gama de qualidades e defeitos dentro de cada um.

Julgamos, apontamos, exaltamos ou inferiorizamos alguém como se estivéssemos com o dedo apontado para esta pessoa – “Você é isso ou aquilo!”, mas podemos ser isso, aquilo e muito mais, dependendo do dia, do momento e da circunstância, mas as pessoas insistem em inserir rótulos em todos que os cercam.

O que possui rótulos? Coisas possuem rótulos, porque elas são simplesmente coisas! Imutáveis, sem vida, expostas em uma gôndola de mercado, numa galeria de loja…

Pessoas são seres humanos em eterna transformação e são muitos em um só!

Reduzimos as pessoas a palavras mesmo sabendo que o verbo “ser” é intransitivo, ou seja, não precisa de complemento, logo a pessoa simplesmente é!

Vivemos com a necessidade de complementar o que não precisa de complemento. Amar é assim…

Quando você é questionado por que ama outra pessoa, qual a sua resposta?

“- Amo porque ele é muito alegre e me faz bem.”

“-Amo porque ela é linda!”

“- Amo porque ele é meu filho!”

O dia que descobrirmos que amamos sem ter um complemento, descobriremos o verdadeiro amor… “Amo porque ele/ela é!”

Quando Deus fala a Moisés no meio da sarça ardente, o homem deseja saber o que falar quando perguntarem sobre Deus: “ Qual é o seu nome? Que lhes direi?  E disse Deus a Moisés: Eu Sou o Que Sou.”(Êxodo,3)

Nesta fala de Deus vemos tanto sobre amar, sobre o real significado de amar… Quando amamos não precisamos dizer o que desperta o amor porque é o ser que é amado, num todo, completo, nunca em partes… Amamos o que o ser amado é!

Desde os primórdios tentamos encaixotar e reduzir até mesmo Deus em tantos momentos da vida, o que é impossível!

Temos a pequenez de nomear e restringir, aprisionando os outros, e até mesmo Deus em conceitos que nos fazem medir os demais com as medidas que nos foram elencadas e proporcionadas ao longo da vida. Nestas inúmeras vezes não nos deixamos alcançar pelo amor.

O amor que ama se redescobre, se reencontra, se encanta, aproxima, reinventa-se todos os dias, destituindo a rotina e acalentando cada movimento, dos mais complicados aos mais doces.

Quando temos a necessidade de reduzir o amor ao ser isto ou aquilo, aumentamos a ansiedade sobre momentos, geramos decepções internas, externas e o amor vai esfriando…

Quando encaixotamos a pessoa em uma forma que temos sobre ela, nos frustramos quando a mesma age diferente, geramos sofrimento dentro de nós, afinal, desmistificamos ideias que construímos sobre alguém.

Quem sofre se torna ansioso, corroído, vitima do que nós mesmos criamos dentro das nossas visões. Desta forma, acabamos por extrapolar este sofrimento com silêncios corrosivos, palavras, atos e atitudes que causam ranhuras em quem nos cerca.

Por conta do encarceramento dos moldes do “é”, vivemos a violência do conceito, das reticências do que entendemos que o outro é unicamente, mas esquecemos que a pedra que aperta o sapato de um pode ser aquela que falta na obra do outro. Alguém que em minha visão “não presta” pode ser a “bênção na vida” do meu vizinho. Até mesmo eu posso ser a pedra no sapato de alguém, basta que olhemos nossa vida por outro ângulo. Não somos perfeitos, simplesmente somos, seguimos e vivemos, nos reformulando, remontando e tentando ser.

Por isso queria falar do amor e do tempo das pausas…

Pausemos nossa vida para ver o que rotulamos, encaixotamos, apontamos e dizemos amar…

Que no tempo das pausas aprendamos a amar alguém pelo simples fato dela “SER” e que isso seja sempre o mais que suficiente, porque amar é um todo, completo do que vemos, sabemos e tudo que acalentaremos todos os dias da vivência do amor.

 

Michelle Carvalho

e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br

Instagram: @michelle_carvalho_escritora

Facebook: Michelle Carvalho Escritora

Youtube: Michelle Carvalho Escritora

Fonte da imagem destacada: https://pixabay.com/pt/illustrations/amor-amando-proposta-silhueta-3497782/

 

 

 

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