Oswaldo Eurico Rodrigues

Uma história em construção: capítulo 6

CAPÍTULO 6

 

               Alice Mariana, conforme havia dito, não recebeu da mãe informações sobre seu pai. Nem seu avô contou nada sobre o antigo genro. Vocês sabem, porém, da inexistência de algo totalmente encoberto abaixo dos olhares de investigadores da vida alheia. Uma vez, uma senhora comentarista de biografias não autorizadas resolveu narrar sobre o pai de Alice. Ela disse à menina tudo o que sabia e acrescentou com toques de superprodução cinematográfica detalhes inimagináveis. A então adolescente Alicinha ouviu a tudo perplexa. O primeiro homem a quem sua mãe conheceu em meio as colchas bordadas era o mesmo homem que navegava em outros lençóis. Ângela Raquel, sem saber de nada, dividia o seu marido com outras tantas mulheres. Algumas acreditavam serem as únicas, outras sabiam da existência da matriz e se deliciavam em sua natureza de filial. Essa senhora comentarista disse duma característica interessante do pai de Alice Mariana: ele só gostava de mulheres bonitas como sua mãe, mas trajadas com roupas de cores extravagantes. Sua mãe sempre usava cores neutras, cabelos presos em coques, quase sempre sem maquiagem. Era uma mulher sóbria e discreta.

               A menina Alice não tinha coragem de conversar com sua mãe sobre as informações da ousada biógrafa informal; afinal de contas Ângela Raquel tinha dentro de si uma natureza pouco celestial capaz de odiar mesmo encoberta por camadas macias de lã. Era um ódio velado do qual nem eu mesmo seria capaz de saber contar. Alice não gostaria de ver a mãe com rancor da vizinha comentarista da vida alheia. E a mãe da Alice morreu sem saber do conhecimento da filha sobre a natureza infiel de um homem casado.

               Quando Mari viu o marido conversando com a mulher fatal, todas as imagens da narrativa da vizinha vieram à tona. Não iria admitir que seu marido se dividisse para outras mulheres.

               A prima de Festus viera até a cidade afim de prestar consultoria à construtora. O encontro no restaurante foi um almoço de negócios. Negócios entre parentes, mas negócios mesmo assim. A consaguinidade permitia carinhos mais próximos. Alice só continuava a estranhar seu marido esquecendo o celular em casa.

 

 

[Você saberia dizer o motivo do esquecimento do celular?]

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