O meu prato predileto
é das coisas mais comuns
dentre as refeições brasileiras.
Feijão com Arroz fresquinho.
Só de (d)escrever essa combinação,
chego a babar.
São muitas memórias afetivas
nessa combinação de preto e branco
ou de vermelho e branco…
Lembrei agora de etnias,
misturas de cores,
nutrindo nosso país com encontros entre:
africanos, colonizador e povos indígenas.
Mas na infância o feijão com arroz, fosse ele:
preto e branco
ou vermelho e branco,
ambos temperado no alho,
me lembrava que era a única coisa
que a gente podia comer.
Uma, duas, três vezes…
Para quem foi assombrado pela fome
e nos conta Carolina Maria de Jesus:
“a forme também é professora”
A gente aprendeu a valorizar
o simples bem feito,
o simples com sabor,
o simples fresquinho
feito em um fogão a lenha…
O simples que nutricionistas desdenham,
mas que para muitos brasileiros
ainda é a principal refeição.
A melhor combinação de cheiro,
sabor e apresentação no prato,
era feita por vó Iracema e tia Jerry.
Elas não estão mais aqui.
Hoje raramente como o simples,
mas quando ele está no fogão ou na mesa…
É meu prato predileto, pelo sabor
e pela memória de autorização de repetição.
Por causa da fome,
jamais autorizei que em minha presença,
nas escolas que atuei, professores e crianças
fizesse colagens com arroz e feijão.
Num país que tem fome,
comida não pode servir de brinquedo.
Helô Strega Carreiro – Pedagoga e doutora em Educação. Por muitos anos foi professora de Educação Infantil, atualmente é professora da FFP-UERJ. Apaixonada por poesia, anda rabiscando por aí e sonhando em ser POETA. Os seus primeiros rabiscos poéticos públicos nasceram na Confraria da Poesia Informal. Atualmente coordena o COLEI da FFP-UERJ que dentre suas ações de ensino, pesquisa e extensão, investe no trabalho de mediação poética e literária.
