Ellen Lessa

Certeza duvidosa

Certeza duvidosa

“Eu quase nunca penso sobre o que fui um dia. Mas fico pensando, se um raio de luz entrasse na caverna… eu seria capaz de vê-lo? Ou senti-lo? Eu seria atraído pelo calor? E se eu fosse… isso me faria… menos horrível?”

A Lista Negra

Pousa, sobre minha pele desgastada, feixes de luz, quentes, como só o sol pode ser. Ainda não compreendo como pude sair, provavelmente o caminho, esse trajeto escrupuloso e irregular que me direcionou aqui, fora da escuridão, porém… ainda não sinto a mudança, se é que há alguma.
A reação do meu corpo diz o contrário da minha alma. Há um toque que ultrapasse para além desta casca? Não diria que sou o mal, tampouco que os fins justificam os meios, eu certamente não diria muita coisa apesar de me arriscar a algumas opiniões…
Ora, minha única certeza é a dúvida, essa que paira como faísca dentro do meu pequeno ser, essa certeza duvidosa que gruda como um chiclete no sapato, justo quando temos pressa na saída, ah… como é teimosa e insistente! Como nos molda e retira os moldes, sem mais, nem menos.
Frágeis, mesmo horríveis, mesmo na escuridão e na luz, essa dúvida que nos coloca e retira, habita e desabita. Ela, maldita e deliciosa, que me fez levantar, caminhar e sentir a droga do sol. Será que sinto? Peço perdão pela prolixidade, sentado aqui na sua frente me sinto confortável demasiadamente… tudo sai como se fosse um simples nada. São muitos pontos de interrogação e poucas respostas, a facilidade é suspeita e o complexo nos detona, sempre resta ela.
Não digo que me arrependo, não digo que não sinto um certo incômodo, penso tanto e não penso, não sou o que era, não serei o que virá, aqui e agora apenas achando que sinto a luz desse sol, entendo que não faço nada além de existir num terreno incerto, comprado por pessoas incertas, assim como eu.
O ponto de vista tende a ser muito interessante e nada confiável, claro. A verdade não existe e, como venho dizendo, só nos resta ela. O sentido dura tão pouco quanto nossas vidas. Repostas? Ficam velhas e se modificam, as dúvidas perduram, ficam.
Há chances do meu sol morrer? Há chances do meu céu nunca mais escurecer? Talvez, talvez…
Para sempre serei horrível? Eu sou horrível? Não sei, não sei. Temo que minhas possíveis respostas sejam cruéis demais, não desejo te chatear com tamanha melancolia. Ah… essa brisa fria, há quem diga que sou. Eu prossigo nesse lugar? Eu saí? Me sinto menos horroroso? O amanhã não sei, isso sim é horror. Ela. Meu… nosso! Nosso talvez.

Ellen Lessa

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Ellen Lessa

Uma vez li uma frase da Clarice Lispector que me impactou: "Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever.". Como ser pensante me vejo escrevendo e poetisando até meu fim. Minha arte sempre estará viva, a poesia pulsa e carregarei com toda minha alegria essa dádiva. Então, muito prazer, sou Ellen, íntima, genuína e profunda. Bem vindos a uma parte de mim!

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4 Comentários

  1. Maravilhoso e elo que percebi entre a crônica e a alegoria da caverna. Muito interessante ler sobre esse motor que está sempre nós movendo em direção ao novo, a dúvida.

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