Luis Amorim

O velho moinho

O moinho era velho, indiciava a placa de identificação feita pedra de séculos outros e desactivado muito antes de termos chegado. Demos uma volta em círculo à redonda construção e para retermos pormenores adicionais repetir decidimos em circular andamento para espanto final no canídeo a ladrar-nos de leira mais abaixo. Ainda lhe fizemos convite para nos acompanhar mas ele não parecia ser de semelhante opinião. Aliás, até nos indicava em percepção querer nossa saída dali, do velho moinho. Como esta opção, pensada não era nem seria por eventual suposição, fizemos investida para abrir a porta grande e imponente do moinho. O cão não parava de ladrar e demos justificação para isso saída de morcego do interior, assustado por certo pensado. Ou talvez fosse do rato que saía por baixo da porta em grande velocidade. Fizemos tentativa mas a entrada não nos deixava passar ao lado mais pretendido. Estaria a porta a pedir um valente encontrão mas este só nos deixava com dores de ombro e braço e até uma perna mal assente na terra como ressalto em resposta. Demos novo ataque na porta em jeito e cedência ela rangia por breves alegres instantes até à desilusão de a ver ainda sem permitir acesso nosso. O rafeiro ladrava mais perto mas o que já nos intimidava era a entrada do moinho quando um rato, talvez distinto do anterior nos olhava por baixo da porta. Regressou para dentro e ainda demos conjectura em forma de palavreado que deveríamos entrar como ele. Dito e feito. Pás não distantes dentro do carrinho de mão que trouxéramos da anterior lavoura e no breve já fazíamos escavação com o regresso do cão a ladrar, ele que havia momentaneamente fugido com medo das pás. Por baixo da porta, quase que já poderíamos entrar mas eis que o moinho cedeu, deslizando para susto do rato lá dentro, assim o imaginámos e com surpresa nossa pelo sucedido, não sem acrescentarmos supondo o mesmo rato fazendo de seguida impiedosa troça de nós. Umas andorinhas voando por cima iam vendo investidas nossas por um aceder de entrada que estava complicado e muito. Resolvemos bater na porta com as pás mas uma delas desintegrou-se, ficando nós apenas com o cabo de madeira nas mãos. Mas apesar disso, a porta finalmente parecia ser derrotada, tombando para a frente perante fuga nossa pois haveria que salvar a pele. Mas seria finalmente o momento de entrar, ainda e sempre sob os latidos do nosso companheiro de jornada, ainda que apenas de um ponto de vista, o dele, bastante crítico. Puro engano. Havia outra porta e de ferro a proteger o velho moinho. Talvez não estivesse assim tão abandonado, dedução de comum acordo sem grandes demoras no pegar de pás ou do que delas restava e fazendo intenção em sair, não sem antes uma derradeira tentativa contra a porta de ferro mas que resultou em dores que por mais tempo rabugentas iriam permanecer. Teríamos mesmo de ir embora, o que resultou no acalmar do cão e no regresso do outro rato, tudo sob o olhar curioso das andorinhas. Quanto ao morcego, certamente só quando não houvesse alguém por ali, regressaria ao velho moinho.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 107 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 321 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 107 de ficção, perfaz um total de 143 livros publicados.

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