Josilene Pessoa

Diário de um espectro chamado mãe – Autista não tem cara

 

Autista não tem cara

 

Ao deficiente físico:
Vamos! Você precisa se levantar dessa cadeira de rodas andar, como todo mundo faz!

Ao deficiente visual:
Vamos! Abra bem os olhos para ver se consegue enxergar como todo mundo faz!

Ao deficiente auditivo:
Vamos! Limpe os ouvidos e faça um esforço para me ouvir! Como todo mundo faz!

Essas exigências parecem ridículas diante do óbvio. Pessoas com deficiências visíveis sendo de nascença ou não, são condições permanentes. Assim como seu diagnóstico.

Mas;

Quando se trata do autismo, nossa primeira preocupação é mover todos os esforços para fazer a qualquer custo com que eles pareçam “normais”.

É óbvio que não vamos fechar os olhos para o tratamento dentro daquilo que é possível mas, com intervenção ou não, esbarramos sempre nas multifaces do espectro. Autista não tem ‘cara de’. Não olhamos para um deficiente visual e falamos: Você não tem ‘cara de cego’!

E os órgãos competentes a área da saúde insistem em ‘laudo atualizado’. Também não vejo um deficiente físico tendo que ir ao médico pedir laudo para comprovar sua comorbidade.

Acham mesmo que uma mãe iria querer fingir que seu filho é autista para se ‘beneficiar’ de algo? Ou acham que um laudo precisa de atualização trimestral porque, vai que o autismo some em três meses?

Certa vez eu fui ao CAPs da cidade para pegar a última assinatura que faltava no laudo específico para solicitar isenção de IPI na aquisição de um veículo pois, nos deslocávamos de uma cidade a outra para tratamento e os custos eram altos. A tal isenção ajudaria na compra e trocaríamos de carro uma vez que o nosso já estava castigado devido ao longo percurso. Já havíamos enguiçado algumas vezes.
Enfim, depois de assinar o tal laudo, a psicóloga se despediu da consulta falando: Não espalha por aí não, senão daqui a pouco estará todo mundo aqui pedindo assinatura!
Todo mundo pedindo assinatura? Como assim? Ela está louca? Nem queríamos estar ali! Não é uma assinatura por um carro de graça! É um direito que consta nas leis e que ajuda na compra de um bem que não é barato! Não é toda família que vai sair por aí pedindo isso. Dou graças a Deus por ter condições sim, mas aquela profissional falou como se estivesse fazendo um favor em segredo. Foram horas na fila da pediatra, depois na fila para falar com o diretor do posto. No fim, o laudo foi negado pela empresa pois ficou faltando um campo a ser assinado pela tal psicóloga. E não, eu não reparei nesse campo que faltava assinar! Queria sair dali o quanto antes e achei que uma vez assinado pelo diretor do posto já bastava.

Bom, há um caminho longo ainda a se percorrer para que não tenhamos que passar por tais constrangimentos. Admito que já foi bem mais difícil também. No entanto, diante de tanta informação a que se tem acesso hoje, não há mais espaço para má vontades e desserviços.

Seguimos tentando…

Josileine Pessoa Ferreira Gonçalves

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Josileine Pessoa F. Gonçalves

Nascida no município de Niterói – RJ, Moradora de São Gonçalo, onde tambem cursei a maior parte dos estudos no Colegio Estadual Nilo Peçanha. Formada em Letras/Port. – Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Trabalho na área da educação e ensino de inglês. Atualmente ministrando aulas de Produção Textua na rede particular de ensino e aulas de inglês online. Faço parte do Coletivo de Escritoras Vivas de São Gonçalo desde o segundo semestre de 2022 e sou membro da União Brasileira de Trovadores, a UBT São Gonçalo, desde Janeiro de 2023. Colunista da Revista Entre Poetas e Poesias, além da coluna com textos variados, ofereço aos leitores minha "escrevivencia" atípica na Série "Diário de um espectro chamado mãe, onde é possível encontrar textos diversos dentro do universo autista. Sou casada, mãe de dois filhos autistas, poeta, escritora e trovadora sempre gostei de compor e escrever sobre vida e sociedade. Inclusive com composições, paródias e versões para uso educacional. 

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