Oswaldo Eurico Rodrigues

Uma história em construção

CAPÍTULO I

 

Carlos Mateus era um engenheiro civil bem-sucedido e muito respeitado tanto no âmbito profissional quanto entre os amigos e perante sua família. Era um homem inteligente e talentoso. Empresário próspero e justo. Seus funcionários eram bem remunerados e recebiam vários benefícios sociais. Formava com Alice Mariana um casal feliz vivendo numa bela casa com empregados eficientes e satisfeitos. Apesar de todo o carinho e segurança proporcionados por Carlos Mateus à sua mulher, ela queria algo mais. A mansão era um local de paz e harmonia, mas faltava movimento, risadas e correrias. Em realidade, faltava um filho ao casal.

As ajudas humanitárias às crianças de comunidades carentes e o apadrinhamento de estudantes não eram suficientes para Alice Mariana. Ela queria o seu próprio filho. Só que não engravidava de jeito nenhum. Fez inúmeros tratamentos e exames. Nada de engravidar. Alice Mariana estava prestes a se tornar uma mulher infeliz. O casal decidiu, então, pela adoção formal.  No decorrer do processo, eis que a melhor notícia do mundo chegou: Alice Mariana estava grávida! Que felicidade! Teriam não apenas um filho, mas sim dois, pois não interromperam os trâmites legais da adoção. Criariam as duas crianças com todo amor que transbordava deles.

A justiça agiu rapidamente e, em pouco tempo, o casal estava com um bebê no colo e com outro por vir.

José Ricardo parecia muito ser um filho biológico do Carlão e da Mari. Não havia quem negasse isso. O filho gerado no útero era também muito parecido com o filho gerado no coração. Bernardo Elias nasceu forte igual ao seu irmão mais velho. Agora sim a mansão estava completa. A alegria naquele lar era contagiante. Faltava algo ainda. Alguém para ajudar a dona da casa a cuidar dos bebês. Mari, apesar de boa saúde e forma física, não estava aguentando carregar dois meninões superpesados ao mesmo tempo. Contrataram uma babá para cada filho.

A babá de José Ricardo era Orfélia e quem cuidava de Bernardo Elias era Griselda. Ambas eram irmãs, porém muito diferentes. A primeira escolheu imediatamente cuidar do mais velho, enquanto Griselda mostrava-se disposta a cuidar de qualquer um dos meninos ou até mesmo dos dois.

Ninguém percebia nada, mas Orfélia mimava por demais ao Ricardinho e desprezava ao Bernardo. Griselda era atenciosa com ambos.

Um dia, o Sr. Carlos Mateus precisou contratar um jardineiro. Orfélia logo indicou o seu irmão Festus. Em poucos dias, o rapagão já estava cuidando dos jardins da mansão. Era um homenzarrão musculoso e muito prestativo. Em pouco tempo, conquistou toda a simpatia da casa. A cozinheira caprichava no prato do gigante, pois ele comia quase três vezes mais do que o Sr. Carlos Mateus, que era também bom de garfo. Noutro dia, o pneu do carro do patrão furou do lado de fora da propriedade. Festus prontamente ajudou ao motorista na troca do pneu levantando o veículo. Trazia as compras para dentro de casa duma só vez. Não havia quem não se sentisse grato ao jardineiro. Só que ele foi contratado para um reparo no jardim e para fazer a manutenção periódica nos canteiros. Não havia necessidade da sua presença todos os dias na mansão. Tão logo acabou a parte de implantação do paisagismo, Festus passou a frequentar menos a casa. Até que um dia, algo terrível aconteceu. Cristóvão, o motorista, foi assassinado quando voltava da visita à casa de sua família no subúrbio.

A família estava perplexa. Ele era uma pessoa pacata, sem antecedentes criminais. Depois de ter ficado viúvo, nunca mais se casou. Alugou sua casa e passou a trabalhar e a morar no trabalho. Nas suas folgas visitava seus sobrinhos e irmãos, mas sempre voltava no mesmo dia pronto a servir ao Sr. Carlão e à Dona Mari. Carlão fez questão de dar ao amigo um funeral e sepultamento dignos de honrarias. Festus estava presente e se ofereceu para guiar o carro de volta para a mansão.

No dia seguinte, Ricardinho ficou doente e precisou ir ao médico. Coisa de criança… Festus levou Dona Alice, o menino e Orfélia até à clínica. A patroa sentou-se no banco de trás com o menino e a babá sentou-se ao lado do seu irmão. Ambos tinham uma ligação muito forte. Mari percebia isso, mas pensava ser algo normal, pois eram irmãos. Estranhava apenas não haver entre Festus e Griselda a mesma proximidade.

Depois de um tempo o luto acabou. O jardineiro agora era motorista da família e ainda cuidava das plantas. A cozinheira passou a criar cardápios cada vez mais gostosos e nutritivos. Era incrível o relacionamento dessa família com os empregados. Passavam os natais juntos como amigos. Os aniversários também. Mari, a cozinheira e Orfélia viviam em intermináveis conversas, enquanto Griselda estava sempre atenta aos meninos. Festus e Carlão treinavam juntos na academia. Carlão estava ficando cada vez mais digno do apelido aumentativo graças a ajuda do agora amigo Festus.

Na empresa, todos notavam a diferença no porte do Dr. Carlos Mateus. Ele acabou por inspirar os funcionários a fazer atividade física. Todos trabalhavam mais dispostos e alegres. Novos clientes, novos projetos. Precisavam de mais operários para o novo empreendimento.

Dessa vez quem indicou alguém para trabalhar como pedreiro na construção dum edifício na cidade foi Griselda. Seu antigo namorado foi apresentado ao Dr. Carlos. Era um rapaz diferentes dos demais. Trabalhava bem, mas não se enturmava com os outros operários. Falava pouco, mas executava as tarefas perfeitamente. Era muito produtivo. Em pouco tempo, já era o encarregado de uma outra obra um quarteirão à frente. No seu silêncio, ele prosperava.

Como a paz parece ser um artigo caro de se manter, uma briga ocorreu no canteiro de obras. Dr. Carlos, conciliador, tentou resolver a situação. Subiu até o sexto andar, onde o clima era terrível. Não sei dizer como ele caiu lá de cima e morreu onde, mais tarde, seria a área de lazer do condomínio.

 

[Se você souber como isso ocorreu, deixe escrito nos comentários.]

 

 

 

 

 

 

 

 

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2 Comentários

  1. Nossa!!! Muito impolgante. Acho que foi armado a morte do carlos. Uma trama arquitetada pela Ofélia que estava de olho no dinheiro da família. Até induziu a Griselda a entrar no plano biabolico, apresentando o namorado para entrar na jogada,assim como fez com o irmão, que matou Cristóvão pra ficar com o emprego de motorista da família.

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