O mês das crianças chegou e eu queria fazer um texto raso e leve sobre esse contato tão sublime e importante que temos com nossos pequenos…
Mas como ser rasa em um relacionamento que exige tanto de nós, nos suga, nos drena devido à responsabilidade de formar o caráter e ajudar a reconhecer sentimentos, emoções e condições de vida de um pequeno ser se, por tantas vezes, nem mesmo nós chegamos a conhecer nossas próprias emoções?
É um tal de “engole o choro”, “você tá bem, não pode deixar de sorrir”, “tá passando mal nada, deixa de preguiça”, e tantas outras falas que as crianças escutam diariamente, né?
Sabemos que devemos ser firmes para que o aprendizado se perfaça, mas porque fazer com que eles sejam obrigados a agradar a todo o tempo sem esboçar o que sentem? Ahhh sim, para no futuro essa subserviência ser considerada doçura e caridade, amorosidade e generosidade…
Desta forma, provavelmente se tornarão adultos submissos que não conseguem tatear o próprio sentimento, sendo bombas-relógio prestes a explodir por não mais suportar a impotência de impor limites ou lidar com o turbilhão de sentimentos represados dentro de si.
Tudo isso acontece porque de geração em geração tornou-se mais normal cobrar das crianças o mesmo que lhe foi cobrado, recompensando as “boas maneiras” com aquilo que o dinheiro compra, cuja lembrança ficará na mente por, provavelmente, apenas algum tempo, esquecendo-se de doar momentos felizes, dedicar-se à troca de ideias, sentimentos, lembranças afetivas e, até mesmo cicatrizes profundas que performarão o laço de forma muito mais forte e emocional com o pequeno infante.
Não se trata de contar as mazelas, dores e dramas vividos com carga de rancor, tristeza pesada e um “quê” de nunca ter superado. Jamais devemos traçar esse fardo assustador para uma criança, afinal, isso pode trazer uma carga afetiva não compatível com o que deve ser vivenciado ou ouvido por uma ser puro, que normalmente é muito empático e cujas memórias ficam marcadas por muitos anos na vida. É esse traço que você quer deixar no seu filho?
Na verdade, deixe ele te conhecer pelos seus sonhos, pelos seus medos, suas conquistas simples e ousadas, pela sua gargalhada, pela sua potência de amor, pela sua arte de escuta, por suas lembranças de amor adolescente e brincadeiras infantis, mas também por suas derrotas e erros que te fizeram crescer como ser humano.
Ouça o seu pequeno, os sentimentos dele, conheça pelo que ele é, não pelo que você monta em sua mente ou pelo que você reverbera sobre ele, pois nem sempre é a realidade, afinal, será que você o vê verdadeiramente?
O trabalho, a correria, o stress, as redes sociais, os aparelhos eletrônicos e tantos afazeres fazem com que não nos permitamos aprofundar laços comuns, mas também tem sido órgão distanciador em enlaces matrimoniais e filiais.
É normal ficarmos no raso, é mais confortável, afinal é aterrorizante ir além e entrar em contato com as coisas profundamente difíceis, principalmente quando o tempo passa e crosta fica ainda mais espessa, dificultando o acesso ao sentimento.
Ficamos no frívolo e negligenciamos a possibilidade de conviver e amar com intensidade nossos filhos, nossos pais e tantas outras pessoas, deixando-as em caixas distantes, e quando se vão de verdade (seja porque não nos procuram mais ou porque falecem), buscamos intensamente relembrar ou encontrar algo nessas “caixas” para nos agarrarmos e não desfalecermos no silêncio ensurdecedor de culpa e remorso.
Para sermos mais, precisamos nos conhecer mais e esse processo de cura é diário, às vezes doloroso, mas intenso. Por isso, gostaria de deixar algumas perguntas a serem feitas por você para a criança que você foi.
Neste momento, você encontra-se sentado frente a frente com aquele pequeno, indefeso, alegre, puro e genuíno ser que você foi.
-Qual a primeira coisa que você gostaria de contar pra ele?
-Qual o maior sonho que você tinha naquela época? Você realizou?
– Qual era seu maior medo ou pesadelo? Você superou?
– Qual era sua maior dor?
– Qual era sua maior tristeza?
– Do que você mais sentia falta?
– O que você gostaria que tivessem feito ou falado para você?
-Agora é a sua chance de reverter essa história, diga a si mesmo o que você gostaria de ter ouvido.
– E o que você gostaria de ouvir daquela criança?
Como você se sente agora?
É realmente difícil revisitar esses momentos que nem sempre são de lembranças alegres e resilientes, mas que são grandes passos para entender situações passadas, compreender os adultos que os cercavam, curar, reviver, aceitar e ressignificar quem você é hoje!
Neste dia das crianças, reviva uma coisa bem maravilhosa que você viveu ou que gostaria de ter vivido quando era pequeno. Na verdade, tente fazer, pelo menos, uma coisa que te traga boas memórias pueris todos os dias de sua vida e torne sua vida mais leve!
Michelle Carvalho
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