Carlos Alberto Jucá estava no auge da terceira idade, com 96 anos. Morava só, viúvo e os filhos já tendo alcançado a maioridade – vivendo suas vidas com suas respectivas famílias. Jucá, como era conhecido, vivia só. Após o falecimento de sua querida esposa, Maria Antonieta Jucá, ele se tornou mais solitário. Tornou-se mais solitário do que era. Jucá, anteriormente, há muitos anos, trabalhava com afinco para sustentar sua família, era representante comercial de uma multinacional.
Não tinha tempo, corria contra ele, porquanto tempo era dinheiro, em seus dizeres. Seus filhos, Juquinha Jucá e Paulo Jucá, quase não o viam. Eles apenas o viam quando ele voltava cansado de viagem. Ele viajava o mundo todo para garantir a subsistência da família. A família vinha em primeiro lugar, e depois ele pensava em si mesmo.
Jucá era solitário, mas o que o atormentava de fato era a saudade: a saudade do tempo perdido. Achava-se tão jovem, não capaz de um dia envelhecer e ver sua esposa morrer e seus filhos crescerem. O sentimento angustiante era a saudade. Vivia com este sentimento pulsante dentro de si, de Maria Antonieta, de Juquinha e de Paulo. No entanto, agora não tinha para onde fugir: estava só, idoso e cansado de batalhar.
Sua batalha era contra o tempo e em busca de dinheiro; contudo, não conseguiu vencê-lo, apesar de ter ganhado dinheiro. O tempo é Cronos, ele engole os próprios filhos. Jucá era filho do tempo. Ele pertencia a seu tempo. Era o tempo da ganância e de ir em busca de ganhar. Ele buscava principalmente dinheiro.
Jucá não venceu o tempo, mas este o venceu e, ainda, está prestes a engolir a nossa personagem. Não se vence o tempo: ele te vence, como venceu Carlos Alberto, e vai te dobrar diante de si. Ele é como um deus que todos se reverenciam quando passa. Quando passa é porque chegou a hora. A hora de Carlos Alberto Jucá estava chegando a passos largos. E, infelizmente, ele não aproveitou seu tempo. Foi atrás de trabalho, incansavelmente; ganhou dinheiro como ninguém. Todavia, atualmente sobra apenas saudade do tempo perdido e receia o tempo que vém: a hora de partir.
Ele partiu enquanto sua família o aguardava. Partiu para a Europa, para a Ásia e para a África. Tudo em troca de quê? De sustentar sua esposa e seus filhos, dar-lhes boa vida e estabilidade. Porém, ele sentiu que não ganhou tempo, que o próprio roubou a si mesmo de Jucá. O tempo perdido, que poderia passar com sua família, não volta mais. A saudade é o que sobra e soçobra são seus últimos momentos vitais – sozinho.
Carlos Alberto Jucá refletia sentado no sofá. Estava sozinho, concluindo tudo isso. O que Jucá concluiu, ante todo o seu tempo, é que o tempo é cruel. Ele é um deus que engole os próprios filhos. Não há como vencê-lo sob nenhuma hipótese. Sua inevitabilidade é melancólica, como o momento em que passava refletindo a respeito no sofá. Sua família não retorna e ele se sente só. Sente que foi roubado, que perdeu na batalha contra o tempo.
– Tempo não é dinheiro. O tempo é como o diamante, uma joia rara. Enquanto somos jovens, temos ele em abundância, lutamos contra ele e não o valorizamos. Mas, quando envelhecemos, passamos por sua escassez e é aí que valorizamos o que perdemos para o próprio tempo. O tempo é o deus supremo que não pude correr e nem vencer. Dobrei-me ante ele, deixou-me ele de joelhos. Estou fraco, velho e sozinho. O tempo é um deus inevitável e com certeza não é Pluto ou o deus chamado dinheiro.
Essa é a história de Jucá e com ela apreende-se algo fundamental: afinal, o tempo é cruel. Ele rouba, apunhala e engole sua seiva mais vital.


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