Viagens no tempo são tema recorrente em obras de ficção científica. Não deve ser à toa. Afinal, quem nunca desejou visitar lugares exóticos do passado, conhecer personagens históricos, mudar acontecimentos fatídicos, ou dar uma espiadela no que o futuro nos reserva?
Mas, mesmo com todos os avanços tecnológicos, esses sonhos parecem improváveis, talvez até, impossíveis. A vontade está ali, apesar de inalcançável. Pode ser, inclusive, que nunca devêssemos tentar satisfazê-la, pois sempre somos alertados contra os terríveis paradoxos temporais e os efeitos catastróficos da intervenção no fluxo original do tempo. Algumas teorias defendem, porém, que nada aconteceria, posto coexistirem distintos universos paralelos. Desse modo, quaisquer alterações levariam a criarmos outro mundo, sem chegar a mudar ou destruir a realidade da qual havíamos partido. Considerando tal possibilidade, estaríamos diante de uma nova vida e seríamos pessoas diferentes.
Opino, contudo, haver uma maneira de mimetizar tais jornadas ao passado de forma segura e cativante, algo bem real e viável. A resposta estaria na restauração e revitalização de espaços com valor histórico e cultural, permitindo a visita a eras passadas sem sairmos do nosso lugar e época. É assim com o Paço Imperial, o Cais do Valongo, o Largo do Boticário, o Real Gabinete Português de Leitura, o Arco do Teles, a Floresta da Tijuca e tantos outros recantos cariocas.
Na última segunda-feira, recebi um vídeo com notícias de uma iniciativa dessas. Trata-se da reinauguração do Mercadinho São José, no bairro de Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro. O prédio foi senzala e celeiro de uma fazenda localizada onde está, hoje, o Parque Guinle. Também, na Segunda Guerra Mundial, por iniciativa de Getúlio Vargas, se tornou um mercado de hortifrutigranjeiros, a fim de atender a população com produtos mais em conta durante o conflito. A partir dos anos 1960, passou um tempo abandonado, voltando a ser ocupado como centro cultural em 1998. Abrigou, então, feira de artesanato, restaurantes, bares, uma loja de artigos de capoeira e eventos. Devido à degradação do imóvel, foi fechado em 2018.
Agora, está prestes a renascer como um espaço multifacetado, sob a gestão da iniciativa privada, por concessão da prefeitura. Reunirá, portanto, a função de abastecimento com pequenos produtores do estado, retomando sua tradição dos anos 1940 até 1960, e bares, restaurantes e eventos culturais, seguindo sua tendência mais moderna. Claro que o ambiente não terá cara de sítio histórico. No entanto, poderemos reviver, no contato com o edifício e a fonte tombados e nas atividades oferecidas, diferentes aspectos de uma trajetória a qual fez parte do bairro durante gerações. Não tem um jeitinho de máquina do tempo? Para conferir, poderemos visitar o Mercado São José, na rua das Laranjeiras, número 90, a partir de julho de 2025.


Deixar mensagem para Cristina Vergnano Cancelar resposta