Deus será o diabo por enquanto
João Guilherme Knaul
Isolado dos prazeres sociais
Decido que sou ótimo quieto
Nenhuma palavra pode me ferir
Se eu estiver surdo o suficiente
Para não ouvir, interpretar e sentir
O cheiro de um punhado de insetos
Sim, esse foi o meu almoço
Acordei com eles sobre meu lençol
A caça veio até mim
Não preciso me esforçar em sair
Ou em trocar esmolas sob o sol
Estavam deliciosos… cada um
Quantos eram?
Lembro-me de um punhado
Não contei quantas patas tinham cada inseto
Ou seja, também não sei se poderiam assim ser chamados
Mas, de fato, um deleite
Levando em consideração o esforço preciso
Que foi apenas cozinhar
Comi deitado no tapete
Então também dormi
E não precisei me levantar
Pense só, como posso eu
Deitar e comer no tapete
Acordar com meu lençol cheio de pragas
Esperando para virar um banquete
Como posso eu, aceitar tal presente
Será Deus que me ama?
Será o Diabo cantando em chamas?
Será os anjos me mantendo vivo?
Será minha mente ardilosa inventando-os?
Será eu digno de pena?
Será essa minha única vida?
Como, deito e durmo
Acordo, como e pergunto
Aos prantos, todos dias chamo
Alguma entidade maligna
Peço para que por favor
Me livre dessa maldição assistida
Me livre de não caçar
Me livre de comer esses que estão aqui
Servindo-me todos os dias
Me mantendo abertamente preso
Porque sei que são melhores eles
Os insetos nojentos no punhado
Que a fome solta nas sombras
Correndo atrás de quem arrisca-se não ficar
Deitado, comendo,,, no tapete


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