Por Elias Antunes
O livro de poemas do escritor Pettras Felício “Todo mundo é ninguém é todo mundo”, compreende um giro linguístico e filosófico, ao mesmo tempo em que promove um lirismo sóbrio e bem delineado.
Ao fazer referência ao todo e a ninguém (ambas palavras totalizantes), Pettras sugere a questão da própria pergunta que se volta sobre si mesma e não se pode fugir da figuração da serpente que “morde a própria cauda”.
Segundo essa linha de raciocínio, tudo volta em círculo, repetindo-se no tempo e no espaço.
Há algo mais, porém, a totalidade e a nulidade, além disso, o lírico. O lirismo é atemporal e não especial.
Para quem:
“O prodígio do sol é mudo
como caladas nascem as flores
em sua urdidura de cores
na multitude das formas.”
(FELÍCIO, 2023, p. 13)
A natureza se constrói de forma lenta, gradual, percebida apenas pelas pessoas mais sensíveis: os poetas, os filósofos, os apaixonados, os artistas etc., isto é, todos que conseguem abstrair do aparente caos, a harmonia da vida.
Importa, também, relatar a questão da memória, tão presente na vida de todos:
“Agora mesmo, nesse instante flácido,
um menino chuta bola.
na poeira de um chão baldio,
enquanto alguém fecha a tampa
de algum finado anseio.”
(FELÍCIO, 2023, p. 36)
Há sempre os ecos e as influências de autores notáveis, como Drummond, Carlos Nejar, Gullar etc. As influências não são demérito para ninguém, pelo contrário, demonstram sua formação e preparo para desenvolver sua própria obra.
Pettras Felício além de ser filho do grande escritor e poeta Brasigóis Felício, também é sobrinho de outro poeta de alto valor, Giamérico Felício, sem que isso tire seus grandes méritos pessoais.
Para que escreve:
“a Babel em que se esconde
a face pura da vida
que por bela convida
e no fim não nos responde”
(FELÍCIO, 2023, p. 56)
Reconhece o condão das perguntas irrespondíveis da existência, mas nem por isso retira a suma importância do perguntar.
Pettras Felício é um poeta de alto gabarito, no qual se encontra não só as grandes questões humanas, todavia um olhar percuciente sobre as mazelas sociais e os claros e escuros caminhos do ser.
Fonte da imagem: Foto do autor.


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