@revistaentrepoetas / @professorrenatocardoso

,

5 cliques

Epicentro

Arnaldo, o último homem no ano de 2064, sustentava o mundo em suas costas, literalmente. Segurava-o de dia e de noite. O planeta havia se acabado em guerras sem fim. Armas nucleares foram usadas, tudo contra os pactos realizados da restrição à ética militar da ONU. Assim, ele foi o único sobrevivente. Pode-se dizer que era o epicentro mundial, o Arnaldo, pois ele soerguia e mantinha o mundo em suas costas.

O que ocorria antes da derrocada da Terra era que Arnaldo era invisível. Como todo mundo, ele tinha muitos problemas. Era recluso, tímido e desajeitado, bem excêntrico mesmo. Cresceu em uma família boa, que o apoiava, sim. A vida, contudo, o levou para outros caminhos: as drogas ilícitas o fizeram decair dia após dia, tornando-se um usuário (invisível, portanto). Marginalizado, na borda da sociedade ele sobrevivia como catador de latinhas e se esgueirava pelas sombras para sua própria mantença, comendo o chorume que sobrava do lixo alheio e bebendo as águas imundas das poças de lama quando havia chuva.

Sobre o confronto: os EUA estavam em guerra com a China. A Rússia e Coréia do Norte entraram no meio disso tudo do lado chinês e os aliados do governo norte-americano também. Uma chacina se alastrou em 2045, a famosa Terceira Guerra Mundial, que não foi à base de paus e pedras, mas de mísseis nucleares. Foi assim que o mundo acabou. No entanto, não nos alonguemos nesses pormenores, indo ao que interessa: o catador de latinha.

Arnaldo, no meio do fogo cruzado, foi afetado com a radiação nuclear, pois a cidade em que vivia foi atingida por uma bomba atômica. Mas Arnaldo não morreu, pelo contrário: ele, que antes possuía 1,85 metros de altura, passou a ter 10 metros. Tornou-se um gigante, tornando-se finalmente visível aos olhos da sociedade. Assim que esta o enxergou, lembrou-se da lenda do titã Atlas, dos primórdios da Antiga Grécia: o titã que sustentava o mundo nas costas. Desse modo, a tarefa do Arnaldo foi a do titã grego.

Soergueu o mundo com todas as forças. Suas pernas, em um primeiro momento, bambearam, pois o peso da humanidade era imenso. A Terra moveu-se lentamente até chegar ao topo, sendo colocada nas costas de Arnaldo por ele mesmo. O mundo sobrevivia porque o gigante o segurava, um cidadão, antes invisível, agora o epicentro mundial: o novo Atlas.


Descubra mais sobre Revista Entre Poetas & Poesias

Assine gratuitamente para receber nossos textos por e-mail.

Deixe um comentário

Sobre

Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

Com uma equipe formada por escritores de diferentes idades e áreas do conhecimento, buscamos sempre oferecer conteúdo de qualidade, promovendo o diálogo entre gerações e perspectivas diversas.

Se você deseja ter seu texto publicado, envie sua produção para:
revistaentrepoetasepoesias@gmail.com

Acesse: www.entrepoetasepoesias.com.br
Siga no Instagram: @revistaentrepoetas / @professorrenatocardoso
Canal no WhatsApp: Clique aqui para entrar

PESQUISA