“Preconceito mata.” Quem já sofreu suas consequências sabe. Mas a frase não deveria ser tomada apenas como metáfora. Para além dos efeitos morais, ideias pré concebidas podem levar à morte real.
Entre os diferentes exemplos de intolerância, há um que oferece perigo devido ao fato de não gerar indignação imediata e as consequentes reação e mudança de comportamento. Falo do preconceito autoimposto, nascido de ideias distorcidas no íntimo de uma pessoa, levando-a a causar danos a si própria.
Tomemos o caso de uma concepção equivocada sobre masculinidade, associada ao desconhecimento e medo. Esses são fatores que, ao longo da história, provocaram o rechaço à prática do acompanhamento médico regular entre homens, em especial no referente ao diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. A doença afeta uma porcentagem alta de indivíduos em todo o mundo, estando entre o tipo mais comum de malignidade nesses sujeitos. Seu rastreamento é simples: por exame de sangue (dosagem do PSA), imagem e toque retal e a descoberta precoce da enfermidade favorece tratá-la com resultados positivos. No entanto, ainda há muito tabu envolvido no procedimento, prejudicando a descoberta do mal a tempo.
O Novembro Azul foi criado visando à conscientização para a necessidade do cuidado da saúde masculina, num paralelo ao Outubro Rosa das mulheres. O movimento teve um início curioso na Austrália, em 2003. Dois amigos, falando sobre como a moda dos bigodes, característica tão viril, perdia força e pensando nas campanhas sobre o câncer de mama feminino, propuseram o Movember (mescla de “mustache”, bigode em inglês, e novembro), com destaque para o combate ao câncer de próstata. A proposta cresceu, ganhou apoios institucionais e se espalhou pelo mundo. Chegou ao Brasil em 2008, com a campanha “Um toque, um drible”, sendo, finalmente, oficializada como “Novembro Azul” em 2018.
Cuidar é uma forma de amor à vida, a si e aos demais. Por isso é tão importante difundir iniciativas como essa, esclarecer dúvidas e desfazer estereótipos. Não se trata, porém, de um tema exclusivo do âmbito masculino, pois a educação, melhor estratégia para a mudança de concepções, e o cuidado passam também pela atuação de mulheres.
Num terreno tão delicado, informação, respeito e afeto são os melhores auxiliares. Portanto, fechando o mês, lembro a data e a relevância de fortalecer as ações individuais e coletivas do Novembro Azul. Estamos todos e todas juntos nessa investida contra um inimigo silencioso e mortal.


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