Dizem que mulheres do interior são tímidas, pacíficas e inseguras. Pode ser que a maioria seja, mas existem pequenas exceções. Conheci há pouco mais de um mês uma senhora com 90 anos e lúcida. Viúva com filhos, netos e bisnetos. Também com bastante histórias para contar.
Seu pai era um alfaiate que confeccionava ternos perfeitos e tornou-se famoso com sua costura impecável! Por conseguinte, foi convidado a trabalhar para os funcionários do palácio Guanabara. E por conta disso, precisaram mudar do interior para a capital do Brasil, Rio Antigo.
Algumas encomendas eram entregues por suas três filhas, essa senhora era a mais nova. Certa vez, ela esqueceu uma caixa no bonde que rapidamente foi pega por outra pessoa. Seu pai, bastante aborrecido, foi obrigado a virar a noite para cumprir com o prazo, refazendo o mesmo modelo.
A partir desse ocorrido, as três moças resolveram “pregar peças” nas pessoas. Com orgulho na voz, a senhora me revelou que as refeições eram colhidas no quintal: legumes, verduras, temperos e inclusive as carnes. Somente os grãos eram comprados. Com as irmãs, ela decorou uma caixa semelhante às entregas e colocou duas cabeças de frango “ainda com sangue!” afirmou, rindo.
Assim, deixavam de propósito a linda embalagem nos assentos da condução. Um pouco incrédula, perguntei se nunca aconteceu de alguém vir e procurar devolver. Ela riu mais alto e ficou com o rosto imediatamente corado, balançando a cabeça afirmativamente. Não parava de rir.
Entre risos, eu quis saber quem encontrou e como foi o resgate. Houve um silêncio momentâneo e vieram os detalhes. Foi um rapaz que guardou por dois meses e, quando devolveu, disse não entender por que um embrulho tão bonito estava bastante malcheiroso! Gargalhadas explodiram no ar!
Após chorar de rir, indaguei se ela havia ficado constrangida com o cavalheiro. Nesse momento veio a surpresa maior com a resposta:
“- Que nada, menina! Fomos casados por 59 anos!”
Ivone Rosa
@profaivonersa
Texto extraído do livro: O primeiro Prazer
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