Em muitos lares o sexo ainda é um tema guardado sob silêncio. O tabu que envolve o desejo transforma o que deveria ser natural em território de constrangimento e medo. E, paradoxalmente, é justamente o silêncio o que mais fragiliza os vínculos amorosos. Falar sobre sexo, ao contrário do que se pensa, não ameaça o relacionamento, ele o fortalece. É na palavra que o desejo se reconhece, se renova e encontra espaço para existir de forma saudável. Sigmund Freud já nos ensinava que a sexualidade não é apenas um aspecto do corpo, mas o núcleo da vida psíquica. Reprimir o desejo ou torná-lo impronunciável cria sintomas. A falta de diálogo sobre sexo é, muitas vezes, o ponto de partida de distanciamentos emocionais e crises conjugais. O desejo precisa circular, não apenas no corpo, mas também na linguagem e é falando dele que se evita que vire ausência, ressentimento ou culpa. O filósofo Michel Foucault, em A História da Sexualidade, desmonta a crença de que o sexo foi simplesmente reprimido e ele mostra que, ao longo dos séculos, o sexo foi cercado por discursos de poder, normas morais e segredos. “Onde há poder, há resistência”, escreve Foucault. E talvez falar sobre sexo seja, justamente, um ato de resistência que é romper o ciclo de silêncios impostos e permitir que o desejo se manifeste sem vergonha.
No amor sólido, como diria Zygmunt Bauman, o diálogo sobre o desejo é o que sustenta a intimidade em tempos líquidos. Quando o casal fala abertamente sobre o que sente, o que gosta e o que teme, cria-se uma zona de confiança que vai além do prazer físico e faz nascer um espaço de segurança emocional, de cumplicidade e transparência. O sexo deixa de ser performance e passa a ser encontro. A psicanalista belga Esther Perel, referência mundial sobre sexualidade e relacionamentos, afirma que “o erotismo vive no espaço entre o eu e o outro”. Falar sobre sexo, portanto, não é apenas sobre técnica ou frequência, é sobre construir pontes entre dois mundos internos. A comunicação íntima mantém vivo o mistério e a curiosidade, impedindo que o relacionamento se acomode na rotina. Lacan, por sua vez, lembrava que “não há relação sexual” no sentido de uma fusão perfeita entre dois sujeitos e é justamente por isso que o diálogo é necessário. Não podemos supor que o outro saiba o que queremos, ou deseje o mesmo que nós. Falar sobre sexo é também reconhecer singularidades e compreender que o prazer e o desejo do outro têm suas próprias lógicas. A linguagem, nesse caso, torna-se ponte entre duas subjetividades que jamais serão idênticas, mas podem se encontrar no respeito e na escuta.
A filósofa Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, já denunciava como o silêncio sobre o desejo feminino foi historicamente construído como forma de controle. Ao privar as mulheres do direito de falar sobre seu corpo e prazer, a sociedade limitou a expressão plena do amor. Resgatar essa voz é também reconstruir relações mais igualitárias, nas quais o diálogo sexual não é ameaça, mas expressão de liberdade. Estudos contemporâneos em psicologia e neurociência reforçam que casais que conversam abertamente sobre sexo tendem a apresentar maior satisfação conjugal, maior frequência de intimidade e níveis mais altos de empatia. A comunicação sobre o desejo não apenas fortalece o vínculo emocional, mas reduz inseguranças, promove autoestima e previne rupturas. O silêncio, por outro lado, alimenta fantasias destrutivas, ressentimentos e distâncias que dificilmente se resolvem sozinhas. Byung-Chul Han, ao analisar a sociedade da transparência e do desempenho, chama atenção para um paradoxo moderno já que falamos muito sobre sexo publicamente, mas pouco sobre ele na intimidade. A erotização das redes sociais e da mídia cria a ilusão de liberdade sexual, quando na verdade muitos casais continuam presos a discursos de vergonha e comparação. O que falta não é exposição, é comunicação autêntica.
Falar sobre sexo é, em última instância, falar sobre vulnerabilidade. É admitir inseguranças, revelar desejos e reconhecer limites. É abrir espaço para a escuta e para o cuidado, dois pilares fundamentais de um relacionamento maduro. O diálogo sobre a sexualidade transforma o sexo de simples prática em linguagem afetiva, um modo de reafirmar o vínculo, de se reencontrar e de continuar escolhendo o outro, mesmo depois de anos de convivência. Como lembra Erich Fromm em A arte de amar, “amar é um ato de vontade”, e o amor verdadeiro requer disciplina, concentração e paciência. O diálogo sexual é parte dessa prática amorosa uma vez que ele exige disponibilidade emocional e coragem para encarar o próprio desejo sem culpa. É na conversa que o casal se educa mutuamente, aprende novas linguagens do corpo e descobre o que faz sentido em cada fase da relação. Em tempos em que a pressa e a distração minam a intimidade, falar sobre sexo é também um gesto de resistência à superficialidade. É lembrar que o prazer não é inimigo da profundidade e que o amor não precisa ser silencioso para ser sincero. O diálogo sobre o desejo é, na verdade, uma das formas mais belas de cuidado porque quem fala sobre sexo com respeito e afeto, fala também sobre amor, sobre escuta e sobre confiança. No fim, o silêncio é o que separa, e a palavra é o que aproxima. Casais que falam sobre sexo se reconhecem, se reinventam e se fortalecem. Porque o sexo, quando falado com amor, não apenas alimenta o corpo, ele nutre a alma e sustenta a parceria. Fica então a dica aos que estão iniciando um relacionamento que busquem desde já dialogar abertamente sobre sexo e, aos casais que não têm dialogado sobre o assunto, há sempre tempo de rever os conceitos.
(Esse texto é da minha própria autoria- Luiza Moura de Souza Azevedo).
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