O ano 2025 caminha para o seu fim, com despedidas do velho para abraçar o novo, projetos e esperanças. É, também, um período de intensificação das compras. Neste contexto, me vêm à mente todas as coisas descartadas a partir do afã de renovação. A desculpa: nos desfazemos do inútil e obsoleto, a fim de criar espaços para as novidades.
Embora eu concorde ser um problema acumular, o tema sempre me remete à questão ecológica. Afinal, o que descartamos vira, com frequência esmagadora, lixo, me lembrando o cenário distópico do desenho animado WALL-E, da Disney-Pixar: nossa Terra submersa em infindáveis montanhas de refugo.
Parece-me que sucumbimos ao apelo do consumo e abraçamos a cultura do descartável. De fato, é difícil não ceder, pois adquirir novos bens tem sido mais fácil do que no passado e o conserto custa caro, quando é possível. A impossibilidade de restauração de aparelhos, aliás, tem três aliados fortes: peças são raras e de alto custo; carecemos, cada vez mais, de técnicos competentes para reparos e, finalmente, a sedução da compra de produtos com cheirinho de novo é enorme. Coisas velhas remendadas são apenas tranqueiras sem valor, segundo tal perspectiva. Os agentes publicitários têm grande responsabilidade nesse cenário. Sabem com exatidão onde cutucar e o que dizer para atiçar nosso desejo, contando, ainda, com o poderoso apoio das mídias sociais.
Paralelo aos problemas de manipulação de interesses, gostos e atitudes, ou do aumento do lixo, vejo, também, nesse desenho moderno, uma paulatina perda de capacidades humanas. Já repararam, por exemplo, como reduziu o número de armarinhos nas ruas? Em parte, como com vários comércios pequenos, a concorrência do mercado digital e de grandes lojas acaba por tornar inviável sua manutenção. Mas suspeito haver outro fator agravante. Armarinhos estão ligados à costura e aos trabalhos manuais. Quem os pratica na atualidade? Haverá pouca gente, se usarmos como parâmetro um passado nem tão distante. Isso associado à queda nas vendas, pela facilidade em obter os mesmos itens com preços mais acessíveis em lojas virtuais, completa o cenário de derrocada.
Acho uma pena. Trabalhos manuais podem estar fora de moda, todavia relaxam, exercitam os pequenos músculos, ativam a cognição, aproximam pessoas e, em vários casos, podem ser fonte de renda ou de contribuição assistencial. Sei muito bem que não se trata de defender nossa volta às fogueiras, às rocas de fiar, aos machados, aos tornos manuais e panelas de barro. No entanto, temo que o argumento de não termos tempo para essas atividades lentas e trabalhosas mascare uma perda desse mesmo tempo precioso diante das magnéticas telinhas de diferentes redes sociais. Acabaremos como os personagens remanescentes da humanidade no desenho WALL-E ? Só o Tempo dirá.
Nota da autora: Esta crônica foi originalmente publicada na Entre Poetas & Poesias, em 08 de janeiro de 2025. A atual versão editada recupera parte da original, perdida com a migração do site da revista.


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