Meu filho jogou o livro de lado, fez cara de mau, cruzou os braços e bateu o pé.
– Que coisa feia! Isso não pode! Não pode, papai!
Tirei os olhos do livro que eu lia, discretamente, fingi que me importava com sua irritação e perguntei o que houve. Indaguei por indagar, pois ele sempre encontrava algo para falar dos livros que lia. Esse menino vai ser crítico literário, escritor, jornalista ou algo do tipo, eu comentava com a mãe dele. Sempre tem algo a dizer; lê as entrelinhas melhor do que eu. E do que eu, dizia a mãe.
– Isso tá errado! – Continuou batendo o pezinho no chão.
Voltei para a minha leitura. Não se pode dar atenção a um menino de 7 anos toda vez que ele se irrita. Crianças dessa idade se zangam do nada, e do nada a zanga passa. Mas ele, agora, queria a minha atenção.
– O que você acha disso, papai?
– Do quê, filho?
– Os homens estão querendo habitar Marte!
– Onde você viu isso?
– Aqui no livro. Eles enviaram uma nave tripulada para Marte para ver se constroem uma cidade por lá.
– E o que tem de errado nisso, filho? É a evolução.
– Tá tudo errado, pai. Tudo! Olha só – e apontou pela janela –, por que não vão cuidar dessas florestas, dos rios, dos oceanos, dos animais? Por que não se preocupam em cuidar da Terra?
– Mas a Terra tem problemas demais. Está tudo se acabando aqui. Então, eles vão tentar viver em outro planeta e salvar a espécie humana – caí na besteira de dizer isso.
– Engraçado, né! Aí, vão acabar com a espécie marciana, como os europeus fizeram com os indígenas! Ficam gastando milhões e milhões de dinheiro mandando naves pra Marte… – parou por um momento e mandou essa: – Naves são caras, papai?
– Muito – respondi, me dando por derrotado.
– Pois é. Gastam milhões e milhões de dinheiro em Marte e deixam aqui se acabar. Por que não gastam esse montão de dinheiro aqui mesmo? Além do mais, em Marte está tudo em paz. Ou tem guerra lá, papai?
– Não – respondi, sentindo uma certa ironia naquela pergunta. – Acho que não…
– Não, não tem. Nunca ouvi falar em guerra, poluição, violência em outros planetas. Só aqui na Terra tem isso – e se jogou no sofá, mais irritado ainda.
– Tem razão, filho. Mas vá dormir, que amanhã é segunda-feira.
Ele me deu um beijo de boa-noite e saiu.
Fechei meu livro e também fui dormir. Só que nesta noite dormi com uma pulga atrás da orelha.


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