Quem nunca viveu de esperança?
Esperança foi uma destas que viveu de esperar
e, pra quem espera,
algo sempre há de vir
de uma forma ou de outra
esperava uma oportunidade na faculdade
(que nunca veio)
esperava que o marido parasse de beber
e parou
(bêbado, na linha do trem,
despediu-se da vida num domingo de Fla x Flu)
esperava que o filho saísse do tráfico
e saiu
(numa troca de tiro com a Polícia)
esperava que a filha largasse o marido
não aguentava mais vê-la toda roxa
e largou
(a manchete “Feminicídio de número 1.000 na pandemia”
estampou a manchete do jornal do bairro)
esperava uma vaga na UTI para tratar de Covid
um gaiato da rua não perdeu a piada e disse:
– Esperança é a última que morre.
Como disse Zé da Luz: “Ah se sesse!”
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