Manhã de uma sexta-feira, incrivelmente quente! Atravessei a rua, caminhei até o ponto de ônibus mais próximo e vi uma jovem retirando a jaqueta de uma forma brusca. Alguma picada de inseto? – pensei.

A moça estava com o rosto vermelho e chorava. Não me contive e resolvi perguntar como eu poderia ajudá-la. Sob um tom de revolta, ela respondeu que acabara de ser assaltada por um homem numa bicicleta. Perguntei se queria chamar a polícia, mas disse que seria inútil porque precisa chegar à universidade para defender o TCC. Nesse momento, o choro foi ainda maior porque o pen drive estava na mochila.

Eu senti o desespero dela, porém era necessária a calma para poder auxiliar. Indaguei se gostaria de voltar para casa, ela me respondeu aos prantos que, além de ficar também sem as chaves, não havia ninguém em casa. Peguei meu telefone, pedi para ela ligar para alguém. Ainda chorando, disse-me que não sabia os números de ninguém, apenas usando a agenda.

A solução do problema era ir à universidade. Chamei um carro por aplicativo e entramos. Mais calma, ela me agradeceu e relatou o acontecido: falava ao celular quando o assaltante tomou seu aparelho e puxou a mochila. Ele usava um casaco de capuz, lembra-se apenas da franja tingida de louro. Não havia mais detalhes para descrevê-lo.

Durante a viagem, ficamos em silêncio por alguns minutos. Dentro do túnel, vimos uma motocicleta com um casal. A mulher na garupa estava passando mal, seu corpo virava para o lado. A estudante abriu a janela do carro e avisou ao motociclista que aconteceria um desmaio. Ele não ouviu e não parou. A menina gritou mais alto. Já na saída do túnel, o rapaz parou e nosso motorista também.

Assisti impressionada à habilidade da jovem fazendo os movimentos para a senhora retornar os sentidos. Rapidamente fomos cercados por vários curiosos. A mocinha nos revelou que é estudante de medicina, e a senhora estava aspirando o monóxido de carbono concentrado dentro do túnel.

Voltamos para o nosso veículo, nos sentamos e, um pouco antes de fecharmos a porta, o motociclista jogou a mochila com todos os pertences da jovem médica, exceto o dinheiro, e saiu rasgando o tráfego… desaparecendo na grande avenida.

Ivone Rosa

@profaivonerosa

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