Democracia Sempre
Bebemos do fel por mais de duas décadas
Vivendo distante da mãe Liberdade
O cheiro da pólvora enchendo os pulmões
No lombo, a chibata da brutalidade
Na boca, o silêncio tremendo de medo
Em nossa alma as marcas dessa atrocidade.
A voz censurada, somente sussurros
Se ouviam miúdos, muito reservados
Nas ruas, nas praças, amigos, irmãos
Nem sempre podiam viver agrupados
Os olhos tiranos sempre vigilantes
Depressa os faziam ficar separados.
Imprensa, poetas, professores, músicos…
Que batiam de frente com o bruto Sistema
Logo eram caçados no lar, no trabalho
No corpo, o cacete; nos braços, algema
Sofriam a tortura nos paus de arara
Julgados sem dó pela Força Suprema.
Direitos negados, sem lei, sem defesa
Muitos padeciam na bruta prisão
Distante de casa, milhares choravam
A dor da saudade duma extradição
Sem ter despedida, centenas tombavam
Sob o chumbo quente da bruta opressão.
Contudo, diante da vil tirania
O povo mostrou-se guerreiro, valente
Quando uma fileira tombava sem vida
Logo outra fileira surgia de repente
A tinta vermelha que manchava as ruas
Ia deixando a massa bem mais resistente.
Por todos os lados, as lutas ferrenhas
Foram-se travando de noite e de dia
Até, finalmente, cair a “Bastilha”
Colocando um fim nessa dura agonia
E o povo voltou a ter vez e ter voz
Nos braços excelsos da Democracia.
João Rodrigues – Reriutaba – Ceará


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