Fala-se muito dos muitos sofrimentos ocasionados pelos abusadores nas relações de amor romântico, o que cresce de forma progressiva, assim como as diversas formas de agressões, violências e mortes causadas por esses abusadores.
Contudo pouco se vislumbra, se fala ou se dá enfoque sobre as tantas formas de abuso psicológico, financeiro, emocional, moral e tantos outros que também ocorrem nas demais formas de relacionamentos no decorrer da vida.
Na verdade, isso acontece, porque na grande maioria das vezes, não há uma reflexão sobre as tantas esferas e formas de abuso que existem, mas já é tempo de voltarmos o olhar para esses acontecimentos angustiantes e cotidianos, impondo limites, posicionando-se diante do que causa incômodo e caminhando para melhores relações, ou colocando um fim nas que não causam bem-estar, trazendo libertação de amarras insustentáveis.
Sempre que falamos de violência já trazemos à mente as marcas físicas e roxas de socos, tapas, chutes, bem como as duras marcas da violência sexual, remetendo tudo isso ao que se enfrenta em casos de relacionamentos “românticos”. Porém, é importante trazer à baila os abusos e assédios sofridos no painel profissional – em que paira sobre a vítima a enorme necessidade de manter o emprego e a estabilidade financeira- , nas relações entre pais e filhos – onde pensa-se inegavelmente existir um vínculo de amor incondicional, mas nem sempre é assim que subsiste tal relação-, nos relacionamentos familiares num geral – em que o vínculo sanguíneo não “permite” que nos separemos jamais e por isso existe a necessidade de tudo suportar…- mas, e quando essa relação de abuso, violência psicológica e cárcere emocional vem de um relacionamento de amizade, o que te prende sob esse poderio invisível?
Primeiramente, é necessário desmistificar as relações e entender as inúmeras formas de abuso e violência. Muito já se falou acima sobre as várias formas em que a violência atua, principalmente no âmbito emocional e psicológico, onde reside uma realidade sensível e sem visibilidade aos olhos, mas profundamente sentida.
É preciso entender que o vínculo paterno, filial ou familiar em qualquer instância não é carta permissiva para causar sofrimentos, cárceres emocionais ou cabrestos indissolúveis por possuir um vínculo sanguíneo. A consanguinidade não significa uma prisão perpétua de convivência quando as relações são martirizantes.
É de suma importância buscar a paz nos conflitos e apaziguar as diversidades com respeito e amor, em todos os âmbitos de sua existência, em qualquer tipo de relacionamento, mas quando o esforço causa esgarçamento perigoso e prejudicial, abalando constantemente sua saúde mental, é necessário buscar o distanciamento sem cultivar o rancor… é difícil, mas é imprescindível que a busca por este caminho percorra todas as instâncias de relacionamentos da sua vida.
Mas, o que te prende a amizades que também são encarceradoras?
Amigo é a família que escolhemos, e se escolhemos sem possuir vínculo perpétuo de consanguinidade, porque não nos desvencilhamos quando não nos faz bem?
Pois é, talvez seja porque foi feita uma escolha, a qual foi concluída devido a similaridades, semelhanças, partilhas, vivências e isso torna o trilhar ao lado de um amigo ainda mais próximo do que um vínculo de sangue… por isso a dificuldade em desvincular-se, porque o estreitamento não foi imposto pelo sangue, mas pelo querer estar junto, pela confiança sem imposições, cobranças ou subserviências.
Diante disso, torna-se ainda mais difícil verificar as relações tóxicas nas amizades, afinal, o que faria um amigo tratar o outro de forma tóxica, abusiva e violenta?
Cada um tem um motivo desconhecido, mas cabe a quem está sendo vítima de sofrimento enxergar, conversar, impor limites e, caso não surta efeitos, afastar-se pelo bem de sua saúde mental e, e, certos casos, até mesmo sua saúde física, bem como a de seus demais relacionamentos.
O cárcere emocional causado por uma amizade é mais comum do que se pode imaginar, mas é uma espécie de violência pouco explanada pela sociedade, e por isso é de suma importância que seja olhada com acuidade, afinal, uma “amizade” encarceradora, abusiva, tóxica ou que traga malefícios, já não pode ser considerada amizade há muito tempo… E neste período, assim como nos outros tipos de relacionamentos tóxicos, somente a vítima não enxerga a necessidade do desfecho deste vínculo, sobrevivendo amparada na corda bamba entre o medo de magoar quem muito a magoa e o respeito aos momentos tão importantes que os trouxeram unidos no caminho da amizade
Os vários tipos de violência estão presentes em todos os tipos de relacionamentos… estejamos atentos aos sinais.
Michelle Carvalho
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