2016. São Paulo. Margens da Rodovia Castelo Branco, mais ou menos próximo a cidade de Cesário Lange. Parados num trevo, eu e o grupo de turistas comigo aguardávamos no interior do ônibus de turismo, a passagem para fazer o contorno. E apreciávamos a paisagem a nossa volta. Bem, na verdade, todos os demais passageiros apreciavam a paisagem a nossa volta. Menos eu. Na verdade, não sei se me sentira meio que na posição de co-piloto da nave e, acreditando equivocadamente que poderia ajudar em alguma coisa, minha mira estava na estrada, juntamente como motorista. E passava carro atrás de carro. Foram vários minutos aguardando passagem.
Até que, um caminhão vinha monstruosa e gigantemente pela estrada, com uma peculiaridade cargueira que me chamou a atenção em função da característica “penosa” ao vento: Caixas e caixas de galinhas VIVAS se amontoavam milimetricamente na carroceria.
Mais parecia um travesseiro quadrado gigante aquela carroceria! O vento a mais de 80 KM/H ativava de forma tremulante aquelas penas que alvoroçavam pelas fendas das gaiolas galináceas. E num daqueles momentos tão raros quanto o testemunhar de uma queda de um meteorito, confrontei-me com outra queda repentina: Uma das caixas se abre do nada! Pelo menos umas quatro ou cinco galináceas despencam do alto da sua prisão plástica!
Ver aquelas galinhas despencando remeteu os meus pensamentos, visões e conclusões a proposições que até hoje – anos depois do ocorrido – ainda pairam nas minhas sinapses…
Que tragédia foi praquelas galinhas! A morte certa lhes esperava ao tocar a estrada. O próximo veículo viria determinante e poderoso para concluir o destino mórbido delas. Mas a morte certa não lhes aguardava no abatedouro? Ou, que oportunidade parecia ser aquela? Será que o bater das asas nunca usadas para voar durante suas vidas enclausuradas poderia levá-las a pousar e repousar às margens da infinita higway da sua curta e previsível vida e buscarem refúgio na mata próxima? Poderiam estender mais alguns dias a sua vida programada ou mais algumas horas de agonia por fugir dos predadores naturais ou desnaturais até que encontrassem finalmente o seu destino derradeiro? A caixa que se abriu, abrira para mais oportunidades ou mais desesperos?
Ver aquelas galinhas caindo ao léu, escancarou ainda mais os meus olhos ante a fugacidade da vida delas e de todos os que com elas se relacionam, se parecem ou se aproveitam. Humanos tolos… acham que estão com a honra de tomar TODAS as decisões, quando o máximo que podem fazer é decidir quem vai decidir sobre a vida deles.
Vida de galinha?
Nada mais do que isso? Uma vida de galinha?


Deixe um comentário