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Projeto 16 horas – Edição: Out.25 – Artigo de opinião –A falta de empatia também destrói vidas– Luiza Moura

Em um mundo cada vez mais acelerado, pautado pela competição e pelo individualismo, a empatia tornou-se uma virtude escassa e, ao contrário do que muitos podem imaginar, sua ausência não é apenas uma falha moral, é uma força silenciosa que destrói relações, projetos, sonhos e, em casos extremos, vidas. O filósofo Emmanuel Levinas já afirmava que a ética começa no rosto do outro. Ignorar esse rosto, essa alteridade, é negar a própria humanidade e contribuir para um ciclo de sofrimento que se espalha de indivíduo para indivíduo, de família para sociedade. A empatia, como descreve Carl Rogers, é mais que simpatia ou compaixão, é a habilidade de compreender o mundo interno do outro, sentir junto sem se confundir, respeitando a subjetividade alheia. No amor, na amizade, na política, no trabalho e na família, ela é o cimento invisível que mantém o tecido social coeso. Sem ela, vínculos se fragilizam, conflitos se intensificam e a solidão se torna presença constante, mesmo em meio a multidões.

Neurocientistas como Tania Singer mostraram que a empatia tem bases biológicas claras. Circuitos cerebrais ativados ao perceber a dor alheia nos lembram que somos programados para conectar-nos. Ignorar essa capacidade não apenas prejudica o outro, mas também nos adoece. Sociedades empáticas tendem a ter melhores índices de saúde mental, enquanto a indiferença coletiva alimenta sofrimento, violência e isolamento. A empatia é, portanto, uma habilidade social e neurológica essencial para a sobrevivência humana. A falta de empatia manifesta-se de inúmeras formas. No ambiente escolar, crianças e adolescentes que não encontram acolhimento desenvolvem ansiedade, depressão e baixa autoestima. O bullying, muitas vezes banalizado como “brincadeira”, é um exemplo cruel de como a ausência de sensibilidade ao outro destrói vidas silenciosamente. No mundo do trabalho, líderes e colegas incapazes de compreender as dificuldades alheias geram ambientes tóxicos, onde o desgaste emocional pode levar a doenças psicossomáticas e a queda na produtividade. Na esfera familiar, a falta de empatia compromete laços afetivos, perpetua padrões de negligência e violência e marca gerações.

Filósofos clássicos já alertavam sobre os perigos da indiferença. Arthur Schopenhauer, em sua reflexão sobre o egoísmo humano, mostrava que a incapacidade de reconhecer a dor alheia é fonte de sofrimento coletivo. Jacques Lacan, em outra perspectiva, sugeria que a dificuldade em empatizar está ligada à própria incapacidade de lidar com as próprias faltas e frustrações. Projetamos no outro aquilo que não conseguimos enfrentar em nós mesmos. Quando a empatia se perde, o que emerge é a indiferença que corrói relações e destrói vidas silenciosamente. O impacto da ausência de empatia também se observa em tragédias sociais e políticas. Violência institucional, negligência de políticas públicas, preconceito racial, exclusão de pessoas com deficiência ou vulnerabilidade econômica: tudo isso evidencia que o dano da falta de empatia não se limita a pequenas frustrações individuais, mas se expande em ondas de destruição social. A indiferença mata, e muitas vezes de maneiras quase invisíveis. Quando não há atenção, cuidado ou ação, vidas se perdem antes mesmo de se tornarem histórias públicas.

Do ponto de vista psicanalítico, a empatia é central para a construção de vínculos saudáveis. Winnicott, com sua noção de “holding” (sustentação emocional), lembra que o desenvolvimento do sujeito depende de respostas sensíveis e sintonizadas aos seus estados internos. Sem essa base, crianças e adultos enfrentam dificuldades emocionais profundas, que reverberam em todas as suas relações futuras. A falta de empatia gera insegurança, medo de confiar e dificuldades de estabelecer vínculos sólidos, perpetuando ciclos de sofrimento e isolamento. Byung-Chul Han, filósofo contemporâneo, alerta que vivemos na sociedade do desempenho, onde até as relações humanas são medidas por produtividade e eficiência. A falta de empatia neste contexto é, portanto, consequência de uma cultura que valoriza resultados imediatos e ignora a dor alheia. Amor, cuidado, solidariedade, valores essenciais à coexistência humana, tornam-se secundários, abrindo espaço para alienação e desumanização. Mas a empatia não é apenas ausência de crueldade: é ação. Levinas nos lembra que somos responsáveis pelo outro antes de qualquer convenção social. Essa responsabilidade se manifesta no simples gesto de ouvir, no olhar atento e na palavra que acolhe. É na prática cotidiana que a empatia salva vidas: reconhecer dores, validar sentimentos e oferecer ajuda concreta é um ato político e ético. A negligência, por outro lado, é destrutiva. Cada ato de indiferença deixa marcas profundas, que se acumulam e podem gerar consequências irreversíveis.

A literatura e a filosofia também refletem sobre esse impacto. Dostoiévski, em Crime e Castigo, mostra como a incapacidade de se colocar no lugar do outro leva à tragédia moral. Hannah Arendt, ao analisar regimes totalitários, evidenciou que a banalidade do mal nasce da indiferença, da incapacidade de sentir responsabilidade pelo sofrimento alheio. Nos dois casos, falta de empatia não é apenas defeito pessoal, é força destrutiva que molda destinos e sociedades. Em última análise, a falta de empatia destrói vidas não apenas pelo sofrimento imediato, mas por silenciar, invisibilizar e marginalizar aqueles que dependem de reconhecimento e cuidado. Cada gesto de acolhimento, cada escuta verdadeira, cada ato de solidariedade, ao contrário, constrói redes de proteção, prevenindo isolamento, adoecimento emocional e, em última instância, tragédias. A empatia, portanto, é uma habilidade que se aprende e se pratica. Ensinar crianças a olhar o outro, educar líderes para ouvir, cultivar atenção plena e sensibilidade social não são apenas exercícios éticos, são medidas de preservação da vida. A destruição causada pela ausência de empatia é silenciosa, mas real e seu antídoto é igualmente poderoso: atenção, cuidado e presença.

(Esse texto é da minha própria autoria- Luiza Moura de Souza Azevedo).

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