Lilo sentou ao lado de seu tutor. O aroma de flores invadiu seu focinho, como sempre.
Gabriel gostava muito de flores e por isso Lilo já estava acostumado à aquele cheiro adocicado próximo a ele. Às vezes, o cheiro o fazia espirrar. Mas também significava que Gabriel estava por perto, então Lilo não se importava.
Lilo passava horas ali, pertinho de Gabriel, olhando as pessoas chegarem. Algumas sempre com os olhos caídos, ombros derrubados. Quase todos carregavam flores, pareciam gostar tanto quanto seu tutor.
O cão perambulava quando estava muito quieto.
Passava pelas pedras, pela grama — já alta demais — e pelas sombras das árvores. Ele gostava de assistir as folhas caindo. . . caindo. . . caindo. . . até tocarem em seu focinho.
Ele recebia carinhos de estranhos.
Lilo sempre foi muito amoroso e amigável. Ele agradecia o afago na cabeça com uma lambida e voltava pra seu posto de costume: ao lado de Gabriel.
Mas nada se comparava ao carinho que Gabriel lhe dava ou a sua voz o chamando de manhã cedinho para a caminhada rotineira dos dois.
Lilo não sabia ler. Mas Gabriel sempre estava com vários papéis na mão e alguns deles eram grossos. Lilo sabia que eram importantes, o que quer que aquilo fosse.
Na lápide, estava o nome de Gabriel completo. Seu tutor. Seu melhor amigo.
No chão, com a grama que pinicava Lilo quando ele deitava, estavam as flores deixadas por alguns familiares.
As flores lembravam Lilo do cheiro que perseguia seu tutor enquanto ele trabalhava na floricultura. Mas nunca teriam o a voz e o calor de Gabriel. E, quanto a isso, só restava a memória.
E saudade.


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