No sofá às 23h, ouço vozes sussurrando em meu ouvido. Estou só em casa. Vivo sozinho, sempre foi assim. Solitário ou não, essa é minha sina. As vozes começaram há pouco tempo, de uma semana para cá. Já é dia 10 de outubro. Caramba! Como o tempo voa. Lembro-me de quando era criança e mamãe fazia… Será mesmo ou são as vozes? Começo a me confundir. Não sei até que ponto são elas que me dizem ou é o meu próprio pensamento.

Uma das vozes, uma voz de homem rústico que vive em uma cabana na floresta vivendo de lenhador, diz-me para eu morrer. Penso bem nisso. Como se tudo fosse acabar, inclusive a voz dele. Richard! O nome dele é Richard! O nome ele não me disse, fui eu que inventei. Ou disse? Estou me confundindo de novo…

Ontem Marina me disse que sou o melhor marido do mundo! Eu chego em nossa casa cansado após um dia de trabalho – sou corretor de imóveis e vendo muitos deles –, ela faz a comida para mim, dou um beijo caloroso em Marina e comemos bem aquela sopa suculenta – será mesmo uma sopa? Quando se aproxima a noite, preparamo-nos para descansar. Deitar e dormir, agarrados… Calma! O que é isso, Marina?! Não me diga que… Então tudo isso é ilusório?

Maria senta-se ao lado de Rubens. Este está acamado há seis meses. Richard fala com Marina que ela precisa se acalmar, pois seu marido ainda vai voltar. Ela diz que não, já era, está morto, vegetando. Richard a consola. O Dr. Luciano chega ao quarto de Rubens. Analisa os aparelhos, respiração, batimentos cardíacos e o estado do homem. Afirma que não tem jeito. É hora de Rubens descansar. Um sono eterno, um alívio para a mente ou alma – o que quer que acreditem.

Estou em minha casa novamente. São 00h. 11 de outubro. Será mesmo? As vozes cessaram, não ouço mais nada. O que é real e o que é delírio? Não posso confiar nas fontes, pois são vozes da minha cabeça… Quer saber? Vou dormir. O sono durará dias, meses ou anos. Hibernarei como um urso pardo.