Não faço ideia de como iniciar essa crônica e muitas outras daqui pra frente. Estou com bloqueio criativo recorrente. As ideias fogem de mim como bandoleiros ou qualquer outro bandido fazem com a Polícia Militar. No momento em que eu mais preciso, elas simplesmente escapam? Deve ser porque eu já as utilizei tantas vezes, em condições pra lá de insalubres, que elas se cansaram e correram de mim. É como se eu fosse um escravagista que as prende num cativeiro em trabalho análogo à escravidão.
Não sou nada disso do que disse: nem polícia e nem escravagista. Muito menos o opressor que oprime minha própria fonte criativa. Posso, quiçá, ser um capitalista. O capitalista é o dono do mundo, como eu de minhas ideias. Ele paga salário-mínimo, define horário de chegada, de saída e de almoço. Semelhante a ele, eu também remunero as ideias, mas as ideias são muito livres e estão muito soltinhas. Não têm hora de chegar, vêm quando querem e quando bem entendem. Já viu empresa funcionar assim? Eu nunca vi! Elas também não trabalham com vínculo CLT, apesar de eu já ter tentado convencê-las a serem minhas empregadas. Elas se autointitulam Freelancers, ou seja, profissionais autônomas. Falta só abrir um MEI!
Karl Marx disse que o socialismo é inevitável. Os oprimidos – cansados de não obterem o que produziram –, um dia, se levantarão contra seus opressores e dominarão a sociedade. Bom, não é bem assim de Marx explica, mas para a crônica serve ser contada desse jeito. Eu, de fato, levo os créditos das ideias que coloco no papel. Porém, no fim, quem fez tudo fui eu, uai! Elas só me dão uma luz, nada mais.
Sinceramente, estou cansado dessa fuga incessante delas em relação a mim. Só quero ter ideias para que eu possa trabalhar em paz, pouco importa se Freelancer ou CLT. Por isso eu imploro: voltem pelo amor de Deus, minhas ideias!


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