Despedimo-nos de setembro e, hoje, abrimos os braços para receber outubro, sempre com esperanças de um tempo positivo e iluminado, a poucos meses do final do ano. Como 2025 está voando!

Eu tinha preparado outra crônica para esta quinzena. Quando recebi a mensagem de uma tia, dizendo que estamos no Dia Internacional do Idoso, decidi, apesar de meio em cima da hora, mudar tudo e complementar minha penúltima publicação na revista: “Mania de velho”.

Sobre aquela crônica, uma amiga comentou ter achado interessante eu não negar os problemas da velhice. Realmente, são vários e incomodam. No entanto, creio que mais molesto é o sentimento de ser peso, um estorvo custoso, inclusive em termos financeiros. Como já havia destacado há quinze dias, não lidamos bem com o envelhecer, nem com o cuidado de anciãos. Acho curioso, porque quem não morre (e quase ninguém parece ter pressa em partir deste mundo) acaba chegando lá. Mas compreensível. A vida moderna nos cobra urgência, eficiência e múltiplas tarefas. Também nos impõe um modelo de estética eternamente jovem. Como dar conta disso? Difícil! Contudo, somos esforçados e nos empenhamos em congelar a juventude e tentarmos ser onipresentes e onipotentes.

O relógio da existência, porém, não para. Um dia, nos olhamos no espelho e constatamos termos alcançado a marca da terceira idade. Vendo-me falar assim, vocês pensarão que me queixo, ou tenho uma visão negativa do envelhecimento. Não é o caso. Para mim, aceitar essa fluência temporal com suas peculiaridades é parte do êxito em saborear os ganhos que vêm com a longevidade. Sim, porque toda moeda possui dois lados, neste caso, seus ônus, mas, igualmente, seus bônus.

E quais seriam as vantagens? Conforme havia escrito em setembro, dispor de mais tempo é uma delas. Outra seria ter a liberdade de se apresentar de forma mais autêntica, sem muitas das máscaras demandadas pela sociedade. Não há dúvidas de que vários perdem capacidade de locomoção ou cognitiva e, portanto, sua autonomia decisória. Por isso, precisamos tanto cuidar do corpo, da mente e do espírito, desde cedo e para sempre. Ainda assim, as pessoas de longos anos são, em geral, um tipo de memória viva. Quantas coisas presenciaram, experimentaram e sentiram. Quantas mudanças viram acontecer. Quem pode, por exemplo, nos falar da delícia de sentir o cheirinho do álcool nas folhas recém mimeografadas na escola primária? Ou rir das fotos reveladas, onde se cortaram cabeças, ou se flagrou uma cena inusitada por acaso? Contar de artefatos e modos de fazer coisas já esquecidos, resgatar lendas, causos, canções e brincadeiras perdidos nos meandros da história, tudo isso faz parte de uma magia somente possível a quem atravessou décadas. Aos mais jovens (me incluo porque há velhos mais velhos do que eu circulando por aí), só nos cabe abrirmos olhos, ouvidos e corações para essa interação tão especial com os idosos. E, claro, nos deleitarmos, pois há um mundo maravilhoso guardado nesses tesouros humanos, só esperando que viremos a chave e abramos a porta do cofre.