Algumas músicas não apenas embalam gerações — elas desafiam o pensamento de quem as ouve. Imagine, de John Lennon, lançada em 1971, é uma dessas obras raras que cruzam décadas como se ainda fossem novidade. Simples, melódica, quase suave demais para carregar um manifesto, ela ousa propor uma reimaginação radical da existência humana.
Nos versos, Lennon convida o ouvinte a imaginar um mundo sem países, sem religiões, sem posses — um mundo no qual a humanidade, enfim, viveria em paz. Não é uma pregação política, não é um projeto de governo. É uma provocação. Uma experiência mental que rompe, sem pedir licença, com a estrutura conhecida da vida em sociedade.
O valor da arte mesmo quando se discorda
É impossível ouvir Imagine sem refletir — seja com concordância, discordância, espanto ou fascínio. A força da canção não está em comprovar que seu sonho é viável, mas em fazer com que cada ouvinte olhe ao redor e se pergunte: por que vivemos como vivemos? Por que as divisões, as guerras, as injustiças persistem?
A arte tem esse dom: permitir que ideias radicais ganhem forma sem que precisem ser leis. Imagine não mudou o mundo no que Lennon propôs, mas abriu espaço para que o mundo conversasse sobre o que ele ousou cantar. É a beleza da livre expressão — a coragem de dizer algo que pode não se sustentar no concreto, mas que alimenta a reflexão sobre quem somos e para onde estamos indo.
Um sonho humano, um convite a pensar
Do ponto de vista de fé, sabemos que as fronteiras, os povos e as línguas não são acidentes da história. Eles não surgiram de ganância, mas de uma decisão divina, que dispersou o homem em nações para conter sua arrogância. E sabemos também que a paz verdadeira não virá de dissolver diferenças pela força da imaginação, mas pela obra do Príncipe da Paz, que une corações primeiro, e um dia unirá nações.
Mas reconhecer isso não diminui o impacto da canção — pelo contrário. Imagine é, no fim das contas, a tradução de um desejo humano legítimo: o anseio de viver sem medo, sem ódio, sem sofrimento. É a voz de alguém que quis, ainda que por caminhos frágeis, vislumbrar o que só será possível de fato quando Deus restaurar todas as coisas.
Quando a utopia vira patrimônio cultural
Mais de cinquenta anos depois, a canção continua sendo cantada, regravada, discutida, usada em eventos, filmes, cerimônias — não porque o mundo acreditou que seria como Lennon imaginou, mas porque a canção expressa, com beleza e coragem, a eterna busca humana por paz.
É aqui que a arte mostra sua grandeza: Imagine não precisa convencer para ser importante. Ela não precisa estar certa para ser valiosa. Ela existe como testemunho de um tempo, de um pensamento e de um artista que ousou falar o que muitos talvez pensassem, mas poucos teriam coragem de dizer.
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Eu sou Camila Lourenço Covre, especialista em desenvolvimento humano e linguagem comportamental. Acredito que a comunicação é a chave para decifrar a alma humana e construir conexões mais profundas. Se você se interessa por esses temas, acompanhe meu trabalho no Instagram: @camilaslourenco.


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