Quando completamos mais um giro da Terra em torno do sol, agregamos mais um ano em nossas vidas… um fechar de ciclo, uma comemoração por vivenciar e experienciar cada detalhe, ou o que conseguimos prestar atenção no decorrer de cada tempo vivido.
Neste último ano, pode parecer que não aconteceu muita coisa, mas se olharmos com lente de aumento, podemos ver a colheita de vários frutos, o semear de tantos outros, bem como os milagres cotidianos que passam despercebidos, e que nem sempre agradecemos a Deus.
Já tive a fase da contagem regressiva para meu aniversário, a fase de nem sentir o dia passando porque estava entulhada de afazeres e compromissos – os quais em nada diziam respeito ao “meu dia”-, já vivi momentos em que não queria me recordar desta data – por acreditar que outros problemas eram superiores a essa comemoração-, noutras vezes queria comemorar de forma eufórica e por vários dias como se fosse carnaval…
Dessa vez foi mais denso, intenso, compacto, latente… sem pensar na idade, no tempo corrente ou nos ventos que modificam as nuvens no céu, porque embora externamente nada parecesse ter mudado, internamente tinha uma ânsia de renovação que eu sequer sabia que estava lá.
Diferente das grandes modificações em dados momentos da vida, como o reinício de carreira, virada de página ou grandes eventos – os quais vem com uma bagagem de preparo, de expectativa e de grande vulto-, é difícil compreender quando nossos movimentos estão voltados a dinâmicas intuitivas básicas, pequenas e estruturalmente simples, pois, muitas vezes são imperceptíveis, sendo até mesmo confundidas com atitudes de “faxinas” cotidianas. O diferencial é que esses movimentos vem impulsionados por uma ânsia de arrumar espaços que nos incomodam, aqueles pelos quais transitamos todos os dias, mas que intencionalmente sempre são deixados pra depois por preguiça, falta de ânimo ou inércia…
O desejo não foi de arrumar gavetas repletas de roupas que não são usadas há muito tempo, nem a intenção de doar coisas, mas um desejo de remoldar lugares palpáveis, que estão sendo olhados, mas que não estão sendo vistos. Lugares que estão repletos de produtos com validade vencida que seriam usados “naquela viagem” que nunca chegou, caixas para guardar produtos que já estão no uso há anos, batons que sempre ficam no fundo da bolsinha de maquiagem e não representam a imagem que tenho hoje, bem como utensílios de fases que passaram e que eu não queria me despedir, mantendo a ideia de tempo perpetuado, congelado nas minhas lembranças…
Em meio a tanto, veio uma necessidade de levantar e caminhar, ter fé no que sou e ressignificar, bem como deixar ir… Uma vontade eruptiva na pele e no coração de renovação do que é palpável, de desfazer daquilo que se estragou sem que eu sequer tivesse reparado, mas que mantive guardado; do que não tem mais razão de ser porque a fase já passou… e eu preciso seguir, bem como, ao mesmo tempo, resgatar o que eu gostava de fazer por mim, porém nunca mais tive tempo de realizar…
Essa movimentação não começou no fechar do meu círculo ao redor do sol, veio uns dois dias depois e foi paulatinamente agindo sobre mim de forma crescente, como se eu mesma estivesse inconscientemente criando força, coragem e ânimo devido a necessidade de fazer algo naquilo que me é cotidiano, no que é vivenciado e experienciado diariamente, porque é neste tempo que vivo, é ali que passo meus dias, é onde minha rotina se desenvolve, por isso é exatamente ali que precisa de renovação. Faz-se necessária a retirada do que não tem validade sobre mim, sobre meu olhar, sobre meu toque e sobre o meu sentimento.
A atitude de ver as coisas sendo jogadas fora causou-me algo diferente das outras vezes que retirei roupas para doar ou que limpei armários com papéis antigos. Daquelas vezes, eu senti como se estivesse me desfazendo de “vidas” que tive e não mais me cabem, mas desta vez senti como se estivesse jogando fora pesos cotidianos que me amedrontam, amordaçam, adoecem e acorrentam de forma silente e indolor…
Ressignificar, desfazer ou jogar fora o que não tem mais validade no nosso cotidiano é mais difícil do que imaginei, mesmo que nunca tenha programado tais atitudes. É diferente da faxina que cansa fisicamente, que tira sujeira e poeira, porque pra essa é preciso ter disposição; pra outra é imprescindível o movimento interno de entender e querer agir diferente.
A cada ciclo coisas novas se mostram, mas quando conseguimos vê-las nos pequenos passos, a leveza parece mais palpável.
Michelle Carvalho
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