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Flor roubada

Temos um pequeno jardim com quatro canteiros na frente do prédio. Não é nada muito elegante ou elaborado, mas dá um certo charme à fachada. Junto às várias folhagens, há roseiras, azaleias e, faz uns meses, doei um antúrio que floresceu por primeira vez em agosto.

Há um tempo, o zelador tinha comentado comigo sobre episódios em que alguém levava um botão do local. Na última segunda-feira, voltou a tocar no assunto e o alvo, desta vez, foi o antúrio. Realmente, percebi a ausência da sua flor cor de rosa, embora não houvesse outro dano à planta. Essas ocorrências são fáceis, pois a edificação antiga tem apenas um muro baixo com um portão sem tranca. Volta e meia, uma pessoa decide invadir e fazer-se um presente.

O funcionário e a vizinha do primeiro andar disseram haver uma senhora que costuma apropriar-se de flores. Certa ocasião, foi pega no flagra, desconversou e saiu de fininho. Nesta semana, ninguém viu o autor do furto, no entanto, isso me fez pensar. Se fosse a tal mulher, ou mesmo qualquer outro, o que motivaria as pilhagens? Lembrei-me do pai da Bela, entrando nos jardins da Fera em busca de uma rosa para a filha. Claro, no nosso caso, não teríamos o poder de punir o infrator com alguma solução mágica. No máximo, seria possível uma repreensão.

Não resta dúvida serem tais atos ilegais, abusivos. Contudo, nunca se caracterizaram como real vandalismo. Não há galhos arrancados, nem folhas despedaçadas ou flores despetaladas atirados ao chão. Apenas o sumiço destas últimas. Arrancá-las invade nosso espaço, é apropriação indevida de um bem alheio, enfeia o jardim e encurta a vida das pobres vítimas. Ainda assim, custa-me um pouco encarar os transgressores de forma muito severa. A seu favor, pesa, ao menos, o senso de beleza. Deslocado, é verdade, apesar de dotado de alguma sensibilidade.

Prefiro que não sejamos assolados por esses atos e consigamos manter íntegro e bonito nosso jardim. Espero, porém, que as flores surrupiadas tenham servido para alegrar um dia, despertar um sorriso, acalentar um amor. Desse modo, a despeito do seu sacrifício, terão cumprido parte do destino de embelezar o mundo e as vidas por elas tocadas.


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

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