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Jerson Brito: Entre Sonetos e a Arte Clássica da Poesia

Jerson Brito descobriu a poesia ainda na infância, através da literatura de cordel. As histórias e rimas lidas nos folhetos que seu pai comprava despertaram nele a vontade de escrever. Hoje, dedica-se ao soneto e à trova, preservando formas clássicas e explorando temas como amor, amizade e sensualidade, sempre com atenção à métrica, rima e musicalidade.

1. Para começarmos, conte um pouco da sua trajetória: como a poesia entrou na sua vida e o que levou você a se dedicar ao soneto como forma de expressão?
Meu primeiro contato com a poesia foi por meio da literatura de cordel, ainda na infância. Lia os folhetos que meu pai comprava. As histórias e as rimas me encantavam. Ali surgiu a vontade de escrever.
Aos 15 anos, escrevi minhas primeiras quadras, mas depois disso, por quase duas décadas, tive que deixar um pouco de lado essa veia literária para me dedicar aos estudos e buscar estabilidade profissional.
Retomei a produção por volta de 2007, nas comunidades do extinto Orkut dedicadas ao cordel e ao repente. Foi o ponto de partida para surgir o interesse pelo soneto e, posteriormente, pela trova, pois sempre tive predileção pelas formas fixas.
A convivência com poetas do Recanto das Letras foi decisiva. Um deles, Marco Aurélio Vieira, falecido em 2021, foi meu maior incentivador e é meu patrono na Academia Brasileira de Sonetistas Clássicos (ABSC).

2. Você se lembra do seu primeiro soneto? Qual foi o tema e o que despertou em você o desejo de seguir explorando essa estrutura clássica?
Meu primeiro soneto provavelmente foi escrito no Orkut, em um desafio da plataforma. Não tenho registro ou lembrança exata, mas o gosto pela rima e métrica me fez seguir em frente.
Minha temática favorita é a sensualidade, o amor e a paixão, mas meu primeiro soneto publicado fala de amizade. Mantive-o fiel ao original e considero-o meu primeiro “rebento” do gênero.

EXALTAÇÃO À AMIZADE
Em minha vida há flor de todo jeito,
de olores tão diversos, variados,
fragrâncias com as quais eu me deleito,
que fazem meus momentos perfumados.

Exalto certa rosa neste preito…
Que doces seus aromas exalados!
Seu cheiro só me deixa satisfeito,
tormentos, assim são suavizados.

Eu não temo qualquer tribulação,
tenho cura pra toda solidão,
isso sentir me traz felicidade.

Acredite, tomou-me a emoção,
no imenso jardim do coração
com carinho plantei sua amizade.

— Jerson Brito

3. O soneto exige ritmo, métrica e rima. Como é o seu processo de composição?
Sempre começo pela ideia. A parte técnica encaixo depois. O esquema de rimas não é definido previamente; é criado conforme a história se desenvolve. A musicalidade é planejada desde o início para manter a cadência do primeiro ao último verso.

4. Na sua visão, o que diferencia um bom soneto de um soneto memorável?
Um bom soneto está tecnicamente bem construído e tem carga poética. Um soneto memorável surpreende o leitor, especialmente no último terceto — a “Chave de Ouro”, o arremate que deixa uma impressão duradoura. Essa é a marca que busco em meus versos.

5. Você já foi premiado ou reconhecido por seus sonetos em concursos, antologias ou eventos literários? Qual conquista foi mais significativa para você?
Sim, tenho diversas premiações e participações em coletâneas. O destaque é o primeiro lugar no 11º Festival de Sonetos “Chave de Ouro”, organizado pela Academia Jacarehyense de Letras.

ESPERAS
Suplicam asas, numerosos pares,
esses desvairos do juízo, implumes,
porque me atingem da lascívia os gumes,
brilham banquetes de carnais manjares.

Se eu te levar, invadiremos ares,
infinitudes da paixão, ardumes;
abraçaremos vendavais, perfumes,
para Afrodite levantando altares.

Senhora, vem extravasar teu gosto,
deitar a seiva, colorir meu rosto,
apaziguar um coração aflito!

Tua presença me alimenta feras,
amansa lábios, adocica esperas
e satisfaz enclausurado grito.

— Jerson Brito

6. Muitos dizem que o soneto é uma forma “antiga”. Como você responde a isso?
O soneto sofreu marginalização, mas a técnica rigorosa não impede a criatividade. Com as redes sociais, ele ganhou força e hoje poetas resgatam a forma clássica mantendo beleza e poesia. Faço parte da ABSC e do Fórum do Soneto, lutando pelo resgate do gênero.

7. Quais sonetistas — clássicos ou contemporâneos — você considera referência para o seu trabalho?
Clássicos: Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes.
Contemporâneos: Marco Aurélio Vieira, Edir Pina de Barros, Ricardo de Sales Camacho, Arlindo Tadeu Hagen, Gilliard Santos, Lucília DeCarli, Thalma Tavares, Elvira Drummond, Geisa Alves, Janete Sales, JB Xavier, Fernando Antônio Belino, entre outros.

8. Você costuma declamar seus sonetos em público? Como é a recepção do público, especialmente o jovem leitor?
Timidez às vezes me impede de divulgar melhor, mas já participei de saraus e gravações. A recepção é positiva, inclusive entre jovens. Recebo elogios e incentivo quando apresento minhas obras.

9. Você já publicou algum livro com seus sonetos? Poderia nos apresentar uma breve sinopse da obra?
Ainda não tenho livros próprios publicados, apenas participações em coletâneas e antologias. Minha produção está organizada no Recanto das Letras e parte é compartilhada nas redes sociais.

10. Quais são seus planos futuros como sonetista?
Continuarei participando de concursos, coletâneas e antologias, com o objetivo de publicar meu primeiro livro solo. Também pretendo contribuir para o crescimento da ABSC.
Quem quiser acompanhar meu trabalho pode acessar


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

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