Dizer não nunca foi meu forte. Quase sempre preferi o sim, ou uma saída pela tangente, a dizer claramente não à pessoa que me pedia, sugeria ou forçava que eu fizesse ou aceitasse algo.
Por não saber negar já tive de aturar um carona por quase uma hora dentro do carro, quando a minha vontade era viajar sozinho, com o rádio no volume máximo ouvindo a música que estivesse em primeiro lugar no meu hit parade pessoal ou conversando comigo mesmo, que eu sempre fui meu melhor interlocutor.
Por não saber dizer não, já comprei quinquilharias inúteis, fiz coisas que só me aborreceram, fui a festas insossas, assisti a peças e filmes que não me acrescentaram nada; só porque não tive coragem de dizer à pessoa que me convidava a verdade: não quero ir, prefiro ficar em casa, tenho mais o que fazer.
Lembro que dei a uma colega, uma vez, na faculdade, o último cigarro que tinha no maço, quando eu fumava, e menti, dizendo pra ela, que tinha mais na mochila, tendo de andar, depois, até um longínquo botequim para comprar um maço e fumar no ponto, atrasando a ida para o trabalho.
Em outra ocasião, subi com amigos a pé, num domingo de manhã, bem cedinho, até a o topo do Pico da Tijuca, numa caminhada enfadonha de horas, porque não tive coragem de dizer com todas as letras “gente, eu não vou, eu não sou disso; espero vocês na volta pra gente beber uns chopes, bom passeio!”
Essa incapacidade de dizer não me fez trabalhar onde não queria, aceitar tarefas que não tinham nada a ver com o meu perfil pessoal ou profissional, comer o que não gostava e, muitas vezes, me relacionar com pessoas que não tinham nada a ver comigo. Mas estou melhorando.
Comecei na rua. Surpreendi-me ao dizer claramente, sem rodeios, a uma moça que me oferecia sei-lá-quê.
– Não estou interessado, obrigado.
Fosse antes, para evitar o não, acompanharia a mocinha até a loja, preencheria formulários, diria sins sem convicção e sairia com um celular novo, um novo plano de internet, um consórcio de automóvel que eu abandonaria após a primeira parcela, um carnê de ajuda aos famintos ao redor do mundo ou um bolo de amêndoas carameladas, com cobertura de chantily, apesar de eu estar de dieta e de odiar chantily.
Dizer não, pensava eu, me tornaria antipático, e minha aspiração sempre foi ser o Mister Simpatia. Sempre fui o mais solícito, o mais prestativo, o mais educado, o pau-pra-toda obra, o que está sempre à disposição, apesar de, na maioria das vezes, ter sido assim só por não ter coragem de negar um pedido ou uma ordem.
Não conseguia negar nada a ninguém, porque negava a mim mesmo. Deixava de dizer sim para o que eu me pedia, implorando, para dizê-lo, sem rodeios, a outros, não fazendo por mim o que me esforçava ao máximo para fazer por terceiros. Custei a me dar conta disso e, mais um pouco de tempo para pôr em prática esse novo modo de vida.
Dizer não me trouxe a paz de espírito que me permite, agora, dizer sim quando realmente posso e quero fazer algo por alguém, sem me constranger e me restringir. Isso me permite estar inteiro no que faço pra mim ou para outra pessoa.
A propósito: encontrei, no elevador, a vizinha que lê minhas crônicas.
– Vai escrever sobre o tema que lhe sugeri?
– Não, esse tema não está entre os meus interesses, desculpe.
Acho que perdi uma leitora.


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