A todo momento as redes sociais trazem novas “trends”, propostas comportamentais, receitas milagrosas e, dentre tantas coisas, muita notícia falsa!
Recentemente recebi de uma amiga uma postagem sobre a “ousadia” trazida pela nova febre de beleza que consiste em deixar olheiras à mostra, apresentando um visual cansado.
Tal visual seria uma forma de demonstrar atitude, rebeldia e desafiar o padrão de beleza perfeita que há séculos vem sendo cobrado pela sociedade, piorando crucialmente com a era das redes sociais e seus filtros.
O mais interessante é que a foto apresentada na postagem é de uma mulher jovem, linda, de olhos verdes penetrantes, aparentando uns 19 anos, com uma pele perfeita porcelanizada e uma maquiagem impecável em tons esfumados em degradê de preto, cinza, e sutis tons arroxeados.
Ora, a tal “trend” polêmica dispara a interrogação: “Por que parecer cansada é o novo sinônimo de beleza?”, mas as imagens ilustrativas da “trend”, trazem pessoas perfeitamente maquiadas para aparentarem cansaço.
Permeio essa interrogação em diversas camadas:
– Recentemente foi lançada a nova temporada da série “Wandinha”, um grande sucesso internacional em uma famosa plataforma de streaming. As personagens desta série tem um ar macabro, sombrio, com aparência pálida, olhar que transmite mistério e até um certo desprezo. Não seria a tal “trend” uma forma de alcançar vários tipos de público, mesmo que de forma subliminar, para remeter a um visual Wandinha Addams e assim vender o produto até mesmo aos mais desavisados quanto à serie?
– Parecer cansada tal qual essa nova “trend” seria mesmo desafiar um padrão imposto pela sociedade? Ora, ter que usar de maquiagens pesadas e subterfúgios cosméticos para parecer algo que por anos tentamos esconder com tantos outros meios intencionais de mascarar o que se está aparentando diariamente, é, na verdade, continuar fomentando e contribuindo para a sociedade consumista, a qual a todo momento traz uma nova forma de traçar o comportamento individual.
– Outra vertente a ser pensada é a da extrema produtividade, a qual somos constantemente cobrados a pertencer. Atualmente, o descanso (quando se tem algum) não dá margem nem mesmo ao ócio criativo, posto que, o tempo destinado ao lazer, a alimentação, ao exercício físico ou mental e de autocuidado tem de ser fotografado, postado com texto filosófico ou frase de efeito. Assim, compreende-se que a produtividade precisa mostrar-se a todo momento, afinal, o que não é mostrado nas redes é tido como ‘não vivido’, e o desaparecimento virtual é sinônimo de “improdutividade” ou de ser “esquecido” pelo “resto do mundo”.
Ora, ser produtivo cansa!
Chegar em algum lugar ou aparecer em fotos com a pele boa, sem olheiras, unhas e cabelos impecáveis e exercícios físicos em dia são sinônimos de descanso e tempo vago para se cuidar, logo, onde está sua produtividade massacrante e exigida pela sociedade?
Normalmente está mascarada pelas inúmeras camadas de maquiagem, cosméticos, subterfúgios e filtros utilizados nas postagens diárias.
Mostrar-se com aparência cansada é aplaudir e prestar contas para a sociedade de que sua produtividade está em dia, em detrimento da sua saúde física e principalmente da mental, deixando claro e visível no rosto o cansaço que exala da alma, a qual luta para sobreviver a todas as tarefas que tem que dar conta diariamente.
Assim, o que aparenta ser uma simples “trend” ou modinha de rede social, pode ser uma forma de “vender” uma personagem de uma série famosa, uma outra forma de usar os inúmeros cosméticos e maquiagens sob o falso foco de desafiar o padrão imposto pela sociedade, – sendo certo afirmar que usando subterfúgios para parecer algo que já nos sentimos de forma natural é também um meio impositivo de estética consumista -, bem como, um grande reforço para a indústria da produtividade incessante e dilacerante da saúde física e mental.
Devíamos nos voltar para a legítima “trend” desafiadora dos padrões da sociedade que é a de amarmo-nos de forma intensa, natural, estando cansados ou não, produtivos ou não, mas acima de tudo, cuidando da nossa saúde mental, que é desafiada a cada instante por este universo paralelo que vive em nossas mãos, o qual nos prende aos celulares e aos nauseantes meios que possui para nos desestabilizar, confundir e infundir atitudes manipuladoras em nossas mentes, o que jamais deveríamos sentir.
Saber discernir o que é de verdade neste cenário de cobrança, vulnerabilidade e virtualidade é saber viver em um cenário social libertador de si mesmo, amando cada parte de seu corpo com autenticidade, e vivendo da melhor forma possível na vida real.
Michelle Carvalho
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