Há quem deteste gente com falatório. Gustavo era uma dessas pessoas. Convivia com uma pessoa desse jeito no trabalho: o João. Este falava pelos cotovelos. Amava um diálogo, uma conversa besta. Acordava papeando, dormia conversando. Porém, Gustavo detestava isso. Era mais quieto e recluso. Diálogo para ele deveria ser útil. Não admirava conversar besteiras e banalidade, mas apenas o silêncio. Ambos trabalhavam em um escritório de advocacia, um local mais silencioso. Não lidavam diretamente com os clientes. Era trabalho interno. Portanto, o local era um ermo – tão ermo que se assemelhava a uma caverna onde há goteiras, sendo estas o barulho dos dedos afundando as teclas do computador, sem mais sons no ambiente. Sabe como é trabalhar em escritório. Lugar solitário. Há quem aprecie e quem não aprecie. Eu mesmo não sou adepto desses locais. Escrevo, não é? Então, prefiro um ambiente mais silencioso. Vamos, portanto, ao que interessa.
Em mais um dia de trabalho, João chegava tagarelando. Gustavo iniciou o expediente já impaciente. Nesse dia, no entanto, o falador queria dizer algo ao recluso. Este esquivava-se. Mas em todo lugar que ia para fugir, o João ia atrás, como uma criança chata atrás de sua mãe dizendo “Ô, mãe” por inúmeras vezes. Gustavo foi ao banheiro. João bateu na porta. Foi à cozinha, onde todos comiam no horário do almoço. O outro foi atrás, tendo algo a dizer. O amante da solidão foi na área externa acender um cigarro. O tagarela foi junto, mesmo não sendo fumante. Gustavo, já impaciente com a situação, bradou:
– O que você quer, meu Deus?!
– Acalme-se, Gustavo. Gostaria só de lhe dizer uma coisa – tentando dizer, mas sem jeito.
– O que é? Diga, logo!
– Ouviu a nova?
– Qual nova?
– O que estão dizendo sobre o chefe está planejando?
– Ora, diga logo, diabo!
– Ele quer sua demissão.
Gustavo prestou bem atenção. Estava estupefato! Não conseguia acreditar naquilo que ouviu da boca do João. Demissão? Como assim? O que fiz de errado? Quando foi questioná-lo a respeito do assunto, João saiu, apressado. Gustavo não sabia o que dizer. Nem com o colega de trabalho conseguiu falar, pois ele saiu rapidamente.
No fim do mesmo dia, o chefe deles o chamou. Tiveram uma conversa séria. Dessas que as nossas mães têm conosco quando fizemos algo péssimo, horrendo ou tiramos nota baixa (sei lá). O líder apontou inúmeros erros e desagrados em relação ao empregado no escritório, de forma violenta e vociferante. Delicado como a mordida de uma besta enjaulada que foge. Dizendo, basicamente, que ele não possuía o perfil para trabalhar no local, mas em um tom nem um pouco delicado. Gustavo não se conteve. Pôs-se a chorar como menino. Menino que não sabe o que fez e está sendo castigado sem motivo aparente. Pegou suas coisas que deixara no escritório e, no fim do expediente, foi-se embora com o último salário (uma merreca).
O motivo pelo qual ele foi demitido pouco importa. Eu não sei (e olha que escrevo esta crônica) e o leitor também não saberá. As demissões acontecem diariamente e em vários lugares. No entanto, João, apesar de tagarelar besteiras e inutilidades sem parar, tinha algo a dizer dessa vez. Gustavo o odiava. Contudo, agora não sabia se gostava mais ou desgostava mais do ex-colega de trabalho.


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