Voltando a falar sobre flores e plantas, minha nova surpresa recente foi a floração do pau-d’água, num grande vaso da varanda. Achei curioso porque, pelo que me lembrava, isso tinha acontecido antes numa estação quente, mas outras dracenas da região também apresentavam flores. No meu caso, eram dois grandes cachos, porém os botões ainda não haviam desabrochado, nem exalavam o cheiro doce e intenso a invadir cada canto da sala.
Confesso ter sentido certa agitação na expectativa de vê-los abrir e impor sua presença, não só pela visão, como pelo olfato. O espetáculo de uma vegetação farta, verdejante, florescente é algo encantador. Espaços cheios de verde tendem a ser perfumados, frescos, plenos de vida, tanto vegetal, quanto animal. Passeios em parques arborizados costumam endorfinar, transmitir paz, energizar o corpo e a alma.
Vocês se perguntarão, portanto, qual o motivo para eu manifestar inquietação diante da demora das flores do pau-d’água, considerando tantos benefícios calmantes. Assim, chegamos ao segundo tema da crônica: ansiedade. Quem, hoje em dia, nunca ouviu o termo ou foi alvo dessa doença, a qual, ao lado de sua prima irmã, a depressão, assola a sociedade? Não sou psicóloga, nem médica, logo, talvez não seja a pessoa indicada para tecer comentários a respeito. Falo, contudo, do lugar de, em parte, vítima, em parte, observadora.
Acho previsível sentirmos angústia diante de prazos apertados e demandas crescentes, em especial no trabalho. E, convenhamos, o povo anda tão atolado de compromissos que fica difícil relaxar. Porém, a situação muda de figura quando essa sensação opressiva se manifesta no lazer ou, inclusive, no descanso. É como se não fosse possível desacelerar. Estamos sempre um passo adiante, prevendo, planejando, calculando, contando os segundos, correndo atrás de algo. Parar? De jeito maneira! Como assim ficar sem fazer nada? Estamos vivendo a síndrome do “preciso encher cada milissegundo para mostrar a mim e ao mundo que sou produtivo”? É mesmo mandatório o tédio invadir nossa mente quando nos permitimos respirar mais devagar?
Quando eu era adolescente, assumia ser da minha natureza fazer uma coisa de cada vez. Minha obrigação era estudar e eu o fazia com gosto. No mais, queria viver sem pressa. Depois, entrei no mercado de trabalho e tudo mudou. Horas, dias, semanas, meses, anos se acumulavam e corriam vertiginosamente. E eu, atrás deles, assoberbada, colocando cada vez mais encargos ou atividades no meu cotidiano. Constato, vendo parentes, amigos e conhecidos, que esse mal nunca foi exclusividade minha. Disseram para nós que o mundo funciona assim e acreditamos.
Hoje, aposentada, considero ter ganho alforria (apesar de haver gostado da minha carreira) e o direito de retomar meus modos de antigamente. Todavia, o vício da vertigem é difícil de abandonar. Está aí a ansiedade pelo desabrochar das flores que não me deixa mentir. E, olha: elas floresceram no seu tempo, inundaram os espaços com seu perfume noturno, atraíram insetos, cumpriram seu propósito, embelezaram o ambiente e se foram. Num ritmo próprio.
Quanto a nós, como não desejar meter todos os projetos, sonhos, planos, atividades, encontros nas vinte quatro horas do dia e ainda deixar um tempinho para comer, cuidar da higiene e dormir? Pois é… Criamos a armadilha, convidamos o monstro para nosso reduto. Agora, nos cabe encontrar a chave para destravar a porta da tranquilidade.


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