ROBÔS
Li no jornal – é, sou desses – a notícia de que cada vez mais são usados robôs nas tarefas domésticas. Há os que aspiram o pó, cortam grama, limpam piscinas e, até, passeiam com o cachorro. Brevemente, dizem os cientistas, farão comida, dirigirão automóveis e farão a segurança nas ruas, zelando pelo bem-estar dos humanos.
Por enquanto, as traquitanas apresentam-se como as máquinas que são. Mas os robôs humanoides aperfeiçoam-se aceleradamente, pois, explicam as empresas que os fabricam, são os mais procurados pelos clientes. Preferimos deuses e robôs semelhantes a nós.
Obviamente, os primeiros a fazerem uso dessa tecnologia são os mais ricos. Um robozinho mixuruca desses custa um olho da cara. E os primeiros a perderem o ganha-pão serão os mais pobres. Faxineiras, jardineiros, policiais, cozinheiras e motoristas de aplicativo estão com os dias contados.
Você já deve ter percebido, pela rabugice desta crônica, que estou com o pé atrás em relação a isso, coisa de velho. Mas tenho argumentos e repertório sólidos para reforçar a minha tese. Os livros e os filmes de ficção científica nos mostram que esse negócio de brincar de Deus nunca acaba bem. Lembra do Hall 9000, do Stanley Kubrick? Olha o Frankenstein no que deu!
Reconheço, porém, que esse é um caminho sem volta. A produção de robôs tornar-se-á industrial em pouco tempo, e sua presença em nossas vidas será rotineira como a dos smartphones. Conviveremos com eles e até relativizaremos os, no início, pequenos acidentes que possam causar. Diremos cinicamente que falhas acontecem, mesmo que elas, episódicas, levem à morte, quem sabe, seus usuários. Como fazemos com os acidentes aéreos e com as tragédias familiares ocasionadas por armas de fogo.
Fizemos a bomba atômica, apesar de termos visto a consequência nefasta de seu uso, mas continuamos a produzi-la em larga escala. A indústria armamentista é das que mais crescem no mundo. E os algoritmos tomam conta de nossas vidas descaradamente. Por enquanto, os inocentes humanoides que ameaçam invadir nossas casas parecem tão inofensivos quanto um brinquedo de corda, mas temo que eles possam virar, em pouco tempo, nossos algozes.
Os robôs vieram pra ficar; farão quase tudo por nós, e em pouco tempo, não viveremos mais sem eles. Estarão metidos em tudo e até cuidarão das crianças e dos velhos da casa. Espero não precisar deles ou não estar aqui para ver isso.


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