Recentemente, li uma reportagem sobre o afundamento da ilha Nyangai. Trata-se de uma das Ilhas Tartaruga, arquipélago pertencente à República de Serra Leoa, na costa ocidental da África. De forma progressiva, a superfície insular vem sendo engolida pelo oceano Atlântico e já se perderam dois terços de sua área em menos de dez anos. Foram-se vegetação, casas, pertences dos habitantes e boa parte da população precisou se mudar. Tudo o que lhes resta é um território de 200 metros de comprimento por 100 de largura. Se não fosse o bastante, falta água potável e as inundações são recorrentes. A comunidade de pescadores está desalentada, enfrentando um futuro incerto, cuja única garantia é o desaparecimento definitivo de seu lar.
A subida do nível dos oceanos é um dos resultados do aquecimento global, cobrando, a cada dia, seu preço de forma mais contundente. Temos tido a oportunidade de observar várias tragédias, aqui mesmo no Brasil: secas na bacia do Amazonas, inundações no sul do país, constantes ondas de calor, baixa nos reservatórios de água, incêndios, ciclones, morte de espécies animais e vegetais. Muitas vidas e bens se perdem no processo. Mas, pelo menos, temos podido reconstruir. Os moradores da pequena ilha, ao contrário, estão condenados ao exílio, sendo, como disse o jornal, os primeiros deslocados climáticos de Serra Leoa, pois não têm o que, nem onde recuperar.
Na quinzena passada, postei uma crônica sobre o reflorestamento da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, a partir de meados do século XIX. Comentei, na ocasião, que, mesmo sem todos os recursos disponíveis na atualidade, foi possível um empreendimento meritório e eficiente de recuperação ambiental. Às vezes, precisamos ser lembrados disso, a fim de renovar nossa esperança e impulsionar nossas ações.
A natureza parece rica e providencial ao demonstrar sua capacidade de transformação e resistência. Creio, inclusive, que, se nos expulsasse, logo, logo, estaria verdejante e plena de vida em todos os cantos. Querem uma prova? Olhando, nestes dias, pela minha janela, no peitoril onde tenho alguns vasos de plantas, descobri minhas flores de maio cheias de botões, os quais agora começam a abrir numa explosão magenta. Esse florescimento tardio, em pleno julho, provavelmente fomentado pelo clima anômalo, além de oferecer uma beleza de encher os olhos, aquece o coração e nos ensina: mudar é possível.


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