Eu sou Luiza Moura, colunista dessa revista e hoje eu mesma resolvi trazer um desabafo para reflexão: Há mais de 20 anos venho me dedicando, com muito respeito e ética, a serviços voluntários. Entre consultas, plantões, atendimentos e outros trabalhos sempre encontrei tempo para doar o que considero essencial: conhecimento, cuidado, presença, escuta e afeto. Não pensem que digo isso aqui com o intuito de buscar validação ou qualquer tipo de conforto ao ego, digo porque penso que possa estimular outras pessoas a pensarem no que vou dizer ou simplesmente a também se doarem ao próximo de algum modo. Acredito mesmo que o conhecimento que acumulamos só encontra sentido real quando é compartilhado e quando transforma ou salva vidas.
No trabalho voluntário descobri que a maior necessidade das pessoas não é uma resposta pronta, um conselho rápido ou uma solução imediata. O que elas mais buscam, e o que tantas vezes falta, é alguém que realmente escute e que se faça presente sem julgamentos, sem exposições e sem punições. Sem misturar o que vem do outro com as suas próprias construções. Como disse Rubem Alves: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.” E o Jung completa bem o que penso quando diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Foi assim no contato real com o humano por trás das patologias, aprendendo a escutar e escutando que percebi algo que me marcou muito: grande parte do sofrimento que vejo nasce do adiamento da própria vida e do adiamento do contato com o outro.
Adiamos encontros, conversas, reconciliações, sonhos e realizações. Adiamos o amor, adiamos as nossas vidas. E, quando percebemos, o tempo passou sem pedir licença, levando com ele a nossa saúde, o nosso vigor, a nossa energia, a chance de dizer “eu te amo”, de pedir desculpas, de estar ao lado de quem importa e de fazer tudo o que gostaríamos de fazer. A solidão que chega não vem apenas da ausência dos outros, mas também da nossa própria ausência, de nós mesmos e do presente. Buda disse sabiamente que “O problema é que você acha que tem tempo.”. Schopenhauer completa dizendo: “Só o presente é verdadeiro e real”. Por isso, quero deixar um convite: que a gente se faça mais presente. Que valorize as pessoas que amamos agora, sem esperar o momento perfeito que talvez nunca chegue. Porque, como escreveu o filósofo Sêneca, “enquanto perdemos nosso tempo hesitando e adiando, a vida passa”.
A escuta, no fim, não é só sobre ouvir o outro, é também sobre ouvir a nós mesmos e o que a vida está nos dizendo hoje. Precisamos aprender a sentir mais, a viver mais a aproveitar mais! Perdemos muito tempo preocupados com o que os outros vão pensar ou sobre o que devemos expor nas vitrines sociais e deixamos de pensar nos nossos desejos, nas nossas vontades, na nossa felicidade. Na pressa de buscar um futuro que talvez nunca chegue esquecemos o motivo pelo qual o tempo atual se chama “presente”. Vamos nos olhar com mais amor, para que possamos também compartilhar desse sentimento com os outros, que também dão razão à nossa existência. Não espere que algo de muito ruim aconteça para aprender a valorizar o que pode ser bom agora mesmo. Que não percamos mais tempo! Já disse a Madre Teresa “Temos apenas hoje. Comecemos.”
(Esse texto é da minha própria autoria- Luiza Moura de Souza Azevedo).
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