O jovem escritor Raimundo punha-se ao ofício diariamente. Tentava uma publicação em jornais e revistas semanalmente. Enviava, rejeitavam. Sempre assim. Não sabia como proceder nessas situações de rejeição constantes. Assim, ele deu com a cara no muro centenas de vezes. Sentia-se um atirador de elite, com fuzil de longo alcance e precisão. No entanto, mirava no alvo em um breu sinistro, na escuridão do sucesso.
Dando com a face na parede fria da rejeição novamente, Raimundo escreveu um texto conciso: uma crônica, simples e objetiva. Refletia no texto acerca da escrita e de como era difícil alcançar uma publicação. De novo, sentiu a dureza de ser rejeitado. O muro alto que tentava transpor era de pedra ou de aço? Ele não conseguia passar. Era rígido como a pedra e intransponível como o aço. Publicar é gratificante, mas as tentativas até o grande evento – um festival interno com o som alto de sua voz interior dizendo: “Parabéns, Raimundo! Você, agora, conquistou o mundo!” – era sofrido.
Outra tentativa, mas com um texto mais poderoso. Concentrou-se bem na hora de municiá-lo e fazê-lo melhor com as revisões. Modificou diversas vezes até ficar perfeito.
– Até que ficou bom – dizia o jovem Raimundo.
Foi ao e-mail e preparou uma mensagem para uma revista grande, respeitada. Escreveu bem o conteúdo da mensagem, revisando-o por incontáveis vezes, até ficar impecável. Pronto. Agora ele preparava o envio.
O seu espírito de atirador de longo alcance e precisão chegou. Como um caçador, mirou no alvo, naquela revista de renome – difícil de publicar. Respirou fundo. Prendeu sua respiração, para que seu artifício fosse preciso. Em contagem regressiva, iniciou-a:
– Três…
O tiro deveria ser certeiro, sob pena de o alvo fugir desesperado e Raimundo não conseguir apanhá-lo.
– Dois…
Faltava um segundo. Acalme-se, Raimundo! Apesar de não enxergar o alvo nesse breu, concentre-se!
– Um…
POW!
Um silêncio ensurdecedor. O alvo não deu sinal de vida. Será que acertou ou ele fugiu de novo?
Errou o alvo, novamente. O texto não foi publicado. Foi erro de pontaria ou o alvo se moveu? Raimundo não sabia. Esse breu, cegante como um holofote, era de uma escuridão absurda! Não foi possível publicar sua crônica.
– Não é sempre que a mira é certeira, apesar do disparo ser poderoso – suspirou o jovem.
Tiro no escuro é assim: a pontaria pode estar correta, mas o alvo sempre é incerto.


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