Lembro-me da primeira vez atirando com espingarda de chumbinho. Foi em minhas férias escolares no sítio de amigos junto com meus familiares. Em uma cidade minúscula e perdida no interior mineiro.
Eu e uns colegas nos juntamos. A arma, em nossa mente infantil, era pesada como um rifle de um soldado do exército brasileiro, especificamente da FEB.
Quando peguei no rifle, senti uma coragem e valentia de um cavalo branco e indomável. Daqueles que o cavaleiro não consegue selar e dá coice em quem tentar. Também, semelhante aos pracinhas, veteranos de guerra, que lutaram em prol do mundo contra o Eixo. Aqueles soldados correndo por entre trincheiras, sujando-se de lama úmida, o cheiro da terra subindo e os pelotões de homens fugindo alarmados: o bunker foi domado. Era dessa forma o meu sentimento de criança.
Juntamos umas latinhas e fomos um por um atirando. Primeiro foi um, depois o outro e chegou minha vez.
Segurei a arma. Sentia o peso de um canhão em minha fértil imaginação. Coloquei a munição, pequenina como a de um revólver, cabia na palma da minha mão, que estava gelada de suor devido ao nervosismo. Era a minha primeira vez atirando. Mirei no alvo. Senti nervosismo. Respirei fundo, controlando a respiração ansiosa e entrecortada: um, dois, três…
POW!
O barulho foi alto! Ruído de guerra mundial. Ouvi a latinha sendo espancada pelo pequeno chumbinho. Ela ficou amassada, como se tivesse sido nocauteada por uma forte pancada no corpo. Devido ao impacto, a lata caiu no chão, derramando a pequena quantidade de cerveja que sobrava, rendendo-se ao disparo de minha poderosa arma. A latinha murmurava e implorava pela vida, com o líquido escorrendo como sangue pelo chão.
Nem acreditei que fiz isso. Eu era um soldado, desses pequenos – pracinhas – que vão à guerra com a valentia estampada na face.
O rifle de chumbinho me fez sentir – pela primeira vez – o saboroso gosto da coragem.


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