Com dedos firmes, quase serenos,
deslizam lentos por um terreno
de carne, afeto e contradição,
esculpindo sombras na emoção.
Dedos que tocam, mas não sentem,
que constroem verdades ausentes.
Tal qual um artista de barro frio,
modela promessas no vazio.
Cada gesto parece sincero,
cada palavra, um doce mistério.
Mas sob a forma bela e clara,
esconde-se a face que não declara.
Moldar é dom, mas também artifício:
pode criar amor… ou precipício.
Um toque gentil, um riso breve,
e o coração se entrega, leve.
Mas há mãos que não são abrigo,
são moldes de um perigo antigo.
Transformam afeto em escultura,
mas feita só de amargura.
Mentira é barro que não seca,
é forma bela que logo quebra.
Por fora, um busto de ternura;
por dentro, apenas fissura.
Esculpir mentiras exige talento,
e uma alma alheia ao sofrimento.
Pois quem molda com má intenção
faz da verdade mera invenção.
E os dedos… esses sempre sabem
onde tocar para que não acabem
os sonhos frágeis, prestes a ruir,
mas ainda dispostos a sentir.
Assim se segue, dia após dia,
um teatro de escultura e poesia,
onde o que fere, muitas vezes,
é o que mais se deseja que permaneça.
Gostou?! Então, assine, gratuitamente, a nossa newsletter e receba, no seu e-mail, as publicações da revista.


Deixe um comentário