Vi uma injustiça na rua. Não apenas a observei de imediato, como a vejo todos os dias. Avistei o Bicho — que era O Homem de Manuel Bandeira, revirando o lixo e devorando os restos do chorume azedo. Vivia dessa maneira, por aí, como muitos brasileiros. Coitados!
Vi o homem em seu estado natural (ou não?): despido de sua civilidade. Pior: completamente nu de sua humanidade. Mas por que isso ocorre, meu Deus, se nossa República preza pela boa dignidade? Dignidade para quem: o homem ou “os homens”?
O primeiro é o que descrevi há pouco: completamente despido, nu e na barbárie — revira lixo e passa fome; já “os homens” são mais civilizados, comem picanha suculenta e da melhor qualidade, dormem bem em camas King Size e se vestem impecavelmente bem — de ternos Gucci ou Prada.
Para “eles” a justiça é feita. Para os despidos de toda a humanidade, somente injustiças. Enquanto os homens nus lutam pelo pão de cada dia, só conseguem o caldo ácido do lixo. No entanto, os “outros” dizem lutar pelos bárbaros — mas, na verdade, advogam em causa própria — e recebem as benesses mais justas.
São apenas filosofias. Talvez, meros devaneios meus de um mundo ideal e, quiçá, mais coerente. Mas convenhamos: a justiça pesa para o lado mais forte, não para o mais fraco.
Por isso um pensador diz que “o fim do Direito é a paz e o meio de atingi-lo é a luta.”
Deve-se alcançar a justiça despindo as vestes dos civilizados e colocando-as nos bárbaros. A dignidade, assim, assumirá uma nova roupagem.


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