@revistaentrepoetas / @professorrenatocardoso

, ,

13 cliques

Projeto 16 horas – Edição: Jun.25 – Crônica – “Os canarinhos” – Erick Labanca

Preso à rotina, o atendente da loja de produtos para animais domésticos, no verão escaldante de uma pequena cidade mineira, trabalhava arduamente. Não revelarei seu nome, nem o do pequeno estabelecimento. É apenas uma história cotidiana de um sujeito comum e num trabalho ordinário.

O homem precisava sobreviver, submetendo-se a humilhações e levando desaforo para casa. Há quem não aceita levá-lo para o lar de jeito nenhum. Mas alguns o trazem para o conforto residencial, tomam café com ele e ainda oferecem um quarto de hóspedes. Tudo por questões de necessidade. A vida é sobre quantos socos na cara você consegue levar até cair, não é mesmo? E atendente era bem resistente, como se verá ao longo da crônica.

Iniciava às 7h e acabava o expediente às 17h30. No horário das 15h, era a pausa para o café da tarde.

Na pausa para tomar um café quente e amargo, João Paulo observava os canarinhos na rua. Esse era o nome do funcionário. Poderia ser João ou apenas Paulo. Também Rodrigo, Timóteo ou Wellington. Todos nomes comuns. Mas vai João Paulo mesmo, visto que é um sujeito ordinário.

Observava como quem vê crianças inocentes brincando de futebol na rua em um fim de semana. A liberdade deles – pássaros e moleques – o fazia sentir inveja. Era uma liberdade que ele já não possuía. A infância acabou e o peso da responsabilidade veio montar em suas costas. Semelhante a um burro de carga. Já os passarinhos tinham asas. Voavam para onde queriam. Mas o vendedor não era como os pequenos pássaros da rua: vivia preso em uma gaiola para cantar.

Afinal, era um jumento ou um pássaro? Isso importa? Ambos servem de metáfora para o que escrevo. Só depende dos olhos de quem vê ou lê essa crônica, pois ambas as comparações são ótimas. João Paulo era uma mistura de ambos os animais: o burro, que carrega o peso de seu dono e o pássaro preso em uma gaiola fria e metálica, destinado a cantar também para a alegria do carcereiro.

Naquele momento, ele queria ser como os canarinhos e voar para bem longe da rotina. Ser um jegue era um fardo. Havia esse fardo e o peso da responsabilidade ou da demissão e, consequentemente, do desemprego e da fome. O dia a dia de João Paulo também se assemelhava ao de um passarinho. Mas não dos que se encontravam no horário de café, na rua: era igual ao dos que estavam presos, com as asas cortadas e obrigados a cantar eternamente para a satisfação de seus donos. Ele se encontrava preso, é verdade. Pelo menos tinha água fresca e comida dentro da jaula. No entanto, o atendente queria apenas voar em liberdade como as pequenas aves da rua.

Gostou?! Então, assine, gratuitamente, a nossa newsletter e receba, no seu e-mail, as publicações da revista.


Descubra mais sobre Revista Entre Poetas & Poesias

Assine gratuitamente para receber nossos textos por e-mail.

Deixe um comentário

Sobre

Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

Com uma equipe formada por escritores de diferentes idades e áreas do conhecimento, buscamos sempre oferecer conteúdo de qualidade, promovendo o diálogo entre gerações e perspectivas diversas.

Se você deseja ter seu texto publicado, envie sua produção para:
revistaentrepoetasepoesias@gmail.com

Acesse: www.entrepoetasepoesias.com.br
Siga no Instagram: @revistaentrepoetas / @professorrenatocardoso
Canal no WhatsApp: Clique aqui para entrar

PESQUISA